26 de abr. de 2007

O Copo, o Relógio e o Telefone V

por Gravata - Desafio Caixa Preta II

Vou até o banheiro, deixo os dois conversando, Dana e o negão. Mister sei-lá-o-quê. Vou dar um tiro rápido. Um ou dois. Preciso despachar logo esse pó. Então, vou matar logo a peteca inteira.

Jogo rápido, eles não sacam. Tá pensando que eu sou lóki?

* * *

E eu continuo, isso e aquilo. Me dê um beijo, meu amor, eles estão nos esperando. Quem é você? Sou tímido e espalhafatoso. Eu sou o cheiro dos livros. Eu sou a chuva que lança. Eu sou a sereia que dança. Eu sou um preto norte-americano, forte, com brinco de ouro na orelha.

Acorda, amor! Hoje eu sonhei contigo. Acorda, amor! Criei barriga e não tem cigarro. Acorda, amor! O que será de mim? Acorda, amor! O que será que me dá? Acorda, amor! Já de saída minha estrada entortou. Acorda, amor...

A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia. Todo dia, todo dia, todo santo dia. Não disse nada do modelo do meu terno. Eu quero correr perigo; solidão apavora. Meu amor, tudo em volta está deserto. Tudo certo.

Eu ando pelo mundo. Ando devagar e corro demais. Corro atrás do tempo; esperando, esperando, esperando... Seu olho me olha, mas não me pode alcançar; você não me pega, você nem chega a me ver.

Te vejo sair por aí. Os automóveis ardem em chamas. Eu, você, nós dois, já temos um passado, meu amor. A bossa, a fossa, a nossa grande dor. Gosto de te ver ao sol, de te ver entrar no mar. Eu não consigo entender sua lógica.

O Rio está cheio de Solanges e Leilas. Tem que ser você! Liga no meu celular. Me chama, me chama, me chama... Quero um baby seu. Quero que você venha comigo. Rapte-me! Amo tanto...

Quando, à noite, a lua amansa... Há que me abraçar com a garra, assim, dos animais. Eu canto pro mundo que roda, mesmo do lado de fora, mesmo que eu não cante agora.

* * *

Quando avisei que iria gozar, ela apontou para o próprio rosto, respirando de forma ofegante, completamente suada, e com o semblante inebriado; como se tivesse bebido uma garrafa inteira de vodka.

Acariciou com a ponta dos dedos a pele lisa do próprio rosto e disse, com sotaque do interior paulista e os olhinhos em transe:

- Mele cá!

* * *

Deixo fluir tranqüilo naquilo tudo que não tem fim. Eu que existindo tudo comigo depende só de mim. Vaca, manacá, nuvem, saudade, cana, café, capim. Coragem grande é poder dizer sim.

* * *

Não sei como vim parar aqui. Isso é um puteiro, sem dúvida. O cheiro entrega. A garrafa de Contini entrega-e-meio. Caralho! Vermute?

E que porra é essa tremendo no bolso?!?

Putamerda, é o celular! Que dia é hoje? Atendo? A puta ta dormindo. É puta? Só pode... Atendo.

CONTINUA...

O Copo, o Relógio e o Telefone IV


Por Mercedes Gameiro - Desafio Caixa Preta II




Droga… Preciso comprar um lustre pra esse quarto. Que horror! Essa lâmpada ta pendurada aí desde que eu me mudei. Também...ninguém entra aqui mesmo... a não ser essa coisa. Olhaaa! Ainda dá pra ler o preço da lâmpada. A etiqueta só queimou um pouquinho. Quanto será que dura uma lâmpada? Tem umas coisas que eu nunca sei. Quanto dura um bujão de gás de 45 kilos? Na casa da minha mãe dura uns três meses, acho, mas eu já vi gente comprar gás só uma vez por ano…E quanto tempo dá pra guardar uma lata de creme nívea? Aquilo não acaba nunca! Que nem vicky vaporube. Alguém já ouviu falar de uma lata de vicky que acabou? E minâncora?
Quando será que eu vou ter um emprego decente que me dê grana suficiente pra me livrar desse estrupício? Se pelo menos ele não babasse no meu pescoço... Ai que nojo…vamo ae, querido…se empolga…eu não tenho o dia todo pra ficar nesse nheco-nheco. Toda vez que ele tira a roupa eu lembro da cara da minha mãe dizendo: “ você adora um salário mínimo…” Putz…se eu me apaixonasse por alguém que conseguisse ganhar dinheiro não tinha que aguentar esse velho babando o meu cabelo. Ainda bem que é ele que paga o salão…”

- Aaaaaaaah!
- O que foi, Dana?
- Sai! Credo! Você viu aquilo?
- Aquilo o que?
- Um homem. Tinha um homem ali na porta. Você não escutou?
- Não tem ninguém na porta, meu anjo…volta aqui e deixa o papai brincar.
- Ai..que medo…parece assombração! Ele gritou alguma coisa…
- Calma, nenem…papai tá aqui. Vem com o papai que ele te proteje.

“Papai…eca…doente!”

- Não…já chega. Hoje eu to nervosa, aflita, cheia de coisas na cabeça…a gente já brincou um monte, “papi”. Você já tá cansado e precisa ir pra casa.
- Ah….só mais um pouquinho…
- Não não não…não seja malvado. Já pra casinha…

Levantei, tomei um banho e me vesti enquanto ele ia embora, graças a deus. Se não fosse ele, minha vida já teria desmoronado, tadinho…eu devia tratá-lo melhor, mas eu sei que homem gosta de mulher complicada então eu prefiro fingir que estou cheia de problemas, assim ele aparece sempre e deixa dinheiro pra mim. Se não fossem esses dez mil de mesada e o apartamento que ele me deu, eu estaria debaixo da ponte, vendendo o corpinho e adeus faculdade, adeus planos lindos, adeus viagem para Paris…quer dizer…vendendo o corpinho eu já to de qualquer jeito, mas pelo menos é pra um só, e uma pessoa que apesar de fazer essa nhaca no meu cabelo, me respeita e cuida de mim. Quem cuidaria de uma vagabundinha igual a mim? O Jan? ha! Quem me dera...quem me dera que ele não fosse um loser, um atrapalhado, um bêbado quebrado...
Saí de casa era 1:15, queria ter almoçado, ai que mal humor! Minha perna estava dormente de ficar suportando o peso do Maurício em cima de mim. Quando é assim, fica horrível descer a escada porque as pernas tremem. Por sinal, quando desci vi que uma parte do corrimão está quebrada. Eu vou chamar o síndico! Pensei ter ouvido alguém cair da escada mais ou menos na hora do grito, mas sei lá…eu tava tão concentrada no preço da lâmpada… preciso colocar lente, não to enxergando bem de longe. Péssimo!
Enquanto descia pensando no síndico imaginei todas as mãos que correram por ali. Mãos sujas de sei lá o que. Pensei na mão do açougueiro que vem entregar carne pra velhinha do 503, com o avental ensanguentado, parece um assassino e não deixa de ser. Mão de criança suja de chocolate, bolo, terra, cachorro, bola, muro. Mão de namorado que fica malhando na escada e sei lá o que faz com a mão depois toca o corrimão e vai descendo devagar para sentir todas as reentranças da madeira...que nojo de tocar nisso...eu quero lavar a mão...eu vou chamar o síndico! Mas só quando eu voltar.
Assim que saí do prédio liguei o celular. Dezessete ligações do Jan-Luc. Dezessete. Quem liga dezessete vezes para alguém? O que será que ele quer? O que será que ele queria me dizer ontem? Eu tenho medo que ele diga que quer ficar comigo. Eu vou querer aceitar e onde eu enfio o Maurício? Onde eu enfio o Jan para esconder do Maurício? O que eu faço? O que, Dana? O que? Eu vou ligar. Será? Vou. Será?

- Alô, Jan ?…
- Orra, Dana!
- O que foi, querido? Eu estava trabalhando e não vi que você ligou.
- Trabalhando.
- É. Um monte de reuniões entediantes.
- Entediantes.
- É…às vezes preciso fazer e dizer coisas que eu não gosto…o dia fica péssimo…ninguém merece a minha companhia em dias assim.
- Coisas que não gosta.
- Jan! você vai ficar repetindo tudo o que eu digo?
- Tá.
- Onde você está?
- No bar perto da sua casa. Vem.
- Bar a essa hora?
- Depois do meio dia não é alcoolismo.
- Ah…claro. To indo.

Olha ele ali…acabado, meu deus. Eu queria saber porque ele entrou nesse processo de se detonar. Era um cara bonito…agora é isso.

- Oi.
Ele me olhou com aqueles olhos de cachorrinho perdido…”o que eu faço pra te resgatar?”
- Dana…Danada…
- Uhuuu! O que é isso?
Eu dei um beijo no rosto dele. Cheiro de…vômito. Ui!
- Nada…tava pensando de onde vem o seu nome. Daaaaaaanaaaaaa.
- Você já está bêbado?
- Quase.
- Me dá isso.

Tomei o drink dele em um gole só. Argh. Ardido. De última. Rabo-de-galo. Drink de adolescente curitibano sem grana. Apontei para o bigode e avisei:

- Uma catota.
- O que?
- Panlangana.
- O que???
- Uma meleca! No seu bigode! Um tatu! Limpa.
Ele pegou um guardanapo de papel e limpou o bigode, depois olhou o guardanapo e me perguntou:

- Saiu?

Tinha saído e eu não sei porque achei aquele gesto tão sexy. Eu sempre adorei o Jan-luc, mas sexy? Ele é estabanado e bonitinho, mas não sexy…sei lá…hoje ele está…sei lá.

- Dana…a gente precisa falar bem sério. Bem sério. Muito sério.
- Vamos falar, Jan. Vamos sim. Bem sério. Mas não agora.
- De novo não Dana. O que é? Vai dizer que tem outro “projeto?”
- Não…agora eu quero levar você num lugar. Vem.
- Eu to a pé. Quer dizer…meu carro tá um pouco inviável.
- Não faz mal. Vem no meu.

Fomos para a garagem do meu prédio e eu estava me controlando para não beijar a boca daquela coisa. Se não fosse o cheiro ruim e aquela catota…ainda bem que foi. Eu podia por tudo a perder. Entramos no carro e eu assumi o volante. A ressaca de Jan estava gritante. Mesmo que ele tivesse tido alguma intenção de esconder, não consegueria. Mostrei pra ele um engano ressaquístico.

- Seu sapato…
- É tênis.
- Tanto faz. Tênis é um tipo de sapato.
- É…calçado, pisante, base, prancha, solado. Peça de calçado que cobre só o pé. Se fosse bota não seria sapato. Tênis é.
- Cala a boca?
- O que tem o meu sapato?
- Tênis.
- Sapato.
- Tênis.Tá trocado.
- Como assim?
- O pé direito tå no esquerdo, e vice-versa.
- Impossível. Se fosse assim eu já teria caído.
- Mas tá.
- É…eu caí.
- Mesmo? Onde?
- Na escada.
- Na escada? Que escada? Jan, onde você foi?
- Numa escada que você não conhece.
- Machucou?
- Nem. To legal. Tem caneta?
- No porta-luvas. Pra que?

Jan tirou os dois pés do tênis, pegou a caneta no porta-luvas.

- Qual que é o direito? – ele perguntou pra mim, com os dois pés de tênis na mão! Eu não acredito que ele não saiba uma coisa tão básica!

- Esse, Jan…claro.
- Por que?
- Porque essa curva do pé direito fica pro lado esquerdo. É assim que se vê. A curva, dos dois pés, fica pra dentro!
- Ah…por que ninguém me ensinou isso?

Eu não ia responder àquela pergunta. Ele escreveu "D" no pé direito do tênis e "E" no esquerdo. Chegamos. Eu ajudei o Jan a calçar o tênis como se ele fosse uma criança. Ele ficou com os dois pés no meu colo me olhando enquanto eu dava dois laços em cada um para que não desamarrasse outra vez. Que vontade de beijar essa boca... Mas eu não posso fazer isso. Acho. Não sei. Sei lá.
Subi a escada do prédio abandonado levando “o pequeno Jan” pela mão. Ele nem perguntou o que a gente estava fazendo lá. A confiança que ele tem em mim me impressiona. Tomara que nunca descubra o que eu faço pra pagar a faculdade. Tomara. Eu detestaria ver a decepção naqueles olhinhos tão… tão… nossa…os olhos dele estão vermelhos.
A gente entrou na última porta do corredor no terceiro andar. Era lá que eu queria chegar. Fazia tempo que eu achava que era hora de apresentar o Jan-Luc pra essa figura. Quando a porta se abriu, Jan-Luc não segurou a surpresa.

- Putaqueopariu! Que merda é essa?

O apartamento é lindo. No meio desse prédio inteiro abandonado, tem aquele mega loft modernézimo, super tecnológico, lindo! Eu adoro ver a carinha de surpresa do Jan. Ele fica lindo quando se deslumbra.

- Espera aqui, Jan. Eu vou buscar uma pessoa.

Jan: “Wow! Eu queria morar num lugar desse! Caralho! O cara deve ter muita grana…mas ué…pra que morar num prédio detonado? Só ele, num prédio todo ferrado. Depois eu que sou louco. Eu que bebo demais. Ta cheio de gente maluca no mundo, e acho que a Dana conhece todas elas. Tá ruim não contar pra ela que eu vi aquele gordo em cima dela. Meu, que raiva! Eu queria encher aquela bunda grande de bala. Se eu tivesse um revólver eu enchia. Que merda! Eu morrendo pra dar um beijo na mulher e aquele velho nojento…argh! Eu queria ter nojo dela. Droga, não tenho. Por mim, catava ela aqui mesmo… uou… nesse sofá ia ser o bicho!
A Dana entrou na sala bem na hora que eu estava limpando o dedo naquele sofá de pele de zebra, para me livrar de um pedaço de queijo que eu tirei do dente. Entraram… ela e um negão. Puta cara grande! Quem é esse cara? Isso não é brasileiro! Meu, não me fala que ele também pega a Dana que eu vou me jogar da ponte. Com o velho nojentão eu aguento, mas com esse cara, com essa pinta, com essa grana, eu to fora. Cara maió estiloso. O que ele gastou nessa roupa eu não ganho em cem anos. O preço dos óculos escuros dele paga um ano do meu aluguel. O perfume que ele usa, custa mais caro que toda a bebida que eu consumo em um mês. Mesmo com todo esse penhasco de diferenças entre “euzinho” e o negão, a Dana veio toda “Dana” me apresentar o cara.

- Meninos... esse é o Jan-Luc, meu amigo querido de muito tempo que eu adoro… e esse é o Mr. W. , outro amigo querido que eu adoro…


Continua…

O copo, o relógio e o telefone III


por Felipe Belão Iubel - desafio Caixa Preta II



Procurei o carregador por algum tempo. Isso só me fez perder mais 10 minutos. 11:40. Larguei o aparelho em cima do sofá e corri para o carro. Quando eu parei de correr e sentei em frente ao volante, lembrei com bastante ênfase na bebedeira do dia anterior. Tsunami de vômito no banco do passageiro. Passei a manga da blusa no bigode enquanto gritava bem alto para todos os vizinhos escutarem.

“Meleeeeeeeeeeeeeeeeca!”

Abri a porta do passageiro e comecei a jogar os pedacinhos da comida do dia anterior para fora. Perdi mais uns 15 minutos. Resmunguei pela semana inteira e comecei a pensar no celular desligado da Dana. Eu já havia bebido antes, mas nunca tinha vomitado tão fedido quanto naquele dia. Cheguei ao ponto de expelir a bile, mas, nessa parte, eu já estava fora do carro. “Dana.” O nome dela vinha aos meus pensamentos e eu só vomitava mais. “Celular desligado.” Eu precisava de um remédio. “Muito estranho.” Engov. Epocler. Sal de fruta. Aspirina. Tilenol. Neosaldina. “Preciso falar com ela.” Um gatorade pra hidratar. Uma água tônica de quinino pra acariciar o fígado. E a ressaca continuava.

Depois da farmácia, parei no boteco. Precisava de energia para passar o resto do dia. Tinha muita coisa importante para fazer e precisava estar bem. E isso significava: um pouco bêbado e sem nenhuma dor de cabeça. Pedi logo um rabo-de-galo e um roll'mops (que, aliás, ninguém tem certeza de como escreve). Café da manhã dos campeões mesmo! Mas eu era medíocre, patético, fraco e consciente da minha situação ridícula. Cheguei ao telefone público sem ressaca e liguei outra vez. Nada. Quero dizer só a voz irritante da mulherzinha mesquinha da operadora dizendo que o celular estava desligado. Aliás, a música que vem junto com a voz sempre me lembra de uma da Cher. Acho que por isso que eu odiava tanto a operadora.

Cheguei ao estacionamento do trabalho fiz a volta e fui até a casa dela. Não tinha como resistir. Ainda mais no meu estado. Desespero era eufemismo para aquele momento. Tentei pensar em quando minha vida tinha se tornado tão patética. A única resposta era o nome dela. Foi aí que eu lembrei do Jean do bar. Senti inveja da vida dele. Falando errado. Atendendo aos clientes daquele jeito de quem faz de conta que sabe das coisas. Só faz de conta mesmo entre uma frase matadora do português e outra:

“Subir pra cima.”
“Prefiro mil vezes.”
“Anexa junto.”

Porra, inveja daquele cara era motivo pra suicídio mesmo. A porta só estava encostada. Entrei devagar e escutei um barulho no andar de cima. Subi as escadas e senti tontura. Parei na metade e contei os degraus até chegar à entrada do quarto. A porta entre- aberta. Ela na cama de bruços. Um homem velho e pelancudo deitado em cima dela.

“Putaqueopariu.”

Sem querer gritei e desci a escada correndo. Claro que eu caí.

Continua....

24 de abr. de 2007

O Copo, o Relógio e o Telefone I


Por Fastolf Brambel - Desafio Caixa Preta II




Conto que observava ansioso. Suava quente em dia frio.
Eram ambos firmes e decididos. O pequeno já estava quase lá há tempos enquanto o grande parecia economizar o seu. Mesmo com a falta de pressa os dois chegaram ao mesmo tempo, sem falhas, aos seus respectivos lugares. Como tinha de ser.
O menor já esboçava seu passo até a casa nove, sem pensar em outra coisa, quando o maior se apossou da de numero 12. E então era hora. Nove horas da noite.
Confesso um certo alívio, seguido de ainda mais ansiedade.

Saí de casa com apenas ela em mente e, por isso, voltei para pegar a jaqueta azul. E por isso também voltei para trocar pela preta.
Já para me precaver tentei lembrar de algumas coisas para evitar a velha quebra da compustura. Por etapas, lembrei de tudo o que me tirava a concentração: os olhos, o sorriso, o cheiro, os brincos, o decote, as unhas bem pintadas e aquela pinta linda sobre a sobrancelha esquerda. Tudo isso entre buzinas a cada sinaleiro que abria.
Parei em frente ao restaurante, respirei fundo e pedi uma mesa para dois.

- Não fumantes, por favor.
- Tem reserva, senhor?
- Jan-Luc Dutrés. - Respondi firme enquanto analisava o ambiente.

O nome francês sempre assustava.

- Claro, meu senhor, por aqui...

Sentei, com aquele ar de importante, e esperei. Esperei. Esperei... Me concentrei ao máximo para saber exatamente o que fazer quando ela chegasse. Me concentrava e fazia cara de sério, para mostrar que não sou aquele palhaço que ela tinha a impressão.
Soltei todo o ar de meus pulmões em um suspiro de nervosismo, aqueles de menino apaixonado, quando senti uma mão delicada acariciar o meu ombro. Levantei de prontidão, ainda com a cara de assustado, enquanto tentava sorrir.

- Oi. - Disse ela.

Estava linda, linda como sempre. Linda como eu, mesmo sabendo, não poderia esperar.
Riu do copo que derrubei, sorriu para minha falta de jeito e segurou a minha mão quando sentou.

- Que bom revê-lo! Como tá?

Agora os ponteiros não tinham mais aquela calma para se mover...

- Vou bem, quero dizer, muito bem. E você, Dana, tá bem? Já mudou de agência? Tá de sapato novo, que eu vi. Tá sozinha? Ainda mora com a mãe?
- Aiai... - disse ela, toda graciosa, o que não é novidade, enquanto sorria com o corpo - Tô ótima. Casa nova, emprego novo, carro novo, vida nova. Mas tô curiosa. Adorei o convite. Não enrola, me conta...
- Então, é meio importante.
- Ótimo, importante é melhor ainda...
- Bem, eu, quer dizer... Já faz tempo que eu queria conversar. Eu queria te ver e...

- Já querem pedir a bebida? - interrompeu o desgraçado do garçom.
- Tequila, duas doses de tequila!
- Tequila, Dana? Uou.
- É, tô pro crime...

Oba, pensei eu, juro que pensei.... Pensei? Será que eu disse alto? Eu pensei, diz que eu pensei...
E ela continuava sorrindo enquanto eu continuava com essa minha cara de bobo.

- Voltando ao assunto. Eu queria dizer que... bem, estou meio confuso, na verdade. Eu...
- Ai, pera, pera.

É, Dana e seu inseparável telefone. Seu famoso telefone. Aquele... que não pára te tocar.

- Só um pouquinho, querido. Preciso atender, é trabalho.
- Meleca!
- Desculpa...

O garçom chegou ao mesmo tempo em que ela se levantou.

Mas ela é assim, disputada. Em tudo. Cheia de energia. E eu sou assim, um bobo.
E nós também, sempre fomos assim: Eu sou um desperdício de sua energia, ela um desperdício de todo o meu tempo.

Meu copo estava vazio há tempos quando ela voltou. E o dela também.

Continua...

23 de abr. de 2007

Daren&Mariana FINAL


Por Mercedes Gameiro - Desafio Caixa Preta



Restaurante - 14:30

Daren está todo perfumado, arrumado como se fosse tirar foto para o passaporte…nervoso, esperando Mariana que, como sempre, está atrasada. Ele tem muita coisa para dizer e mal pode esperar até que ela sente e se acomode à sua frente. Olha sem parar para o celular como se ele fosse dizer onde ela está. Sobre a mesa, uma garrafa de vinho aguarda cheia de segundas intenções.
Mariana entra, seus olhos cruzam o olhar de Daren sentado ao fundo da sala. Ele mantém seu velho e bom olhar padrão: cotovelos apoiados na mesa, mãos cruzadas em frente à boca, olhar fixo…observando cada passo, movimento dos quadris, sorriso, olhar.

Mariana:
Eu me sinto pelada quando você me olha assim. Detesto chegar depois de você.

Daren:
Eu preferia mil vezes que você estivesse pelada.

Mariana: (rindo)
Eu conheço bem as suas preferências…

Daren serve uma taça de vinho para ela, levanta seu cálice num brinde.

Daren
A nós? A essa vida estranha que faz a gente ir e voltar como duas baratas tontas…

Mariana:
Isso…aos impurrões que a vida nos dá.

Os dois brindam se olhando nos olhos, mas há algo errado no olhar de Mariana.

Daren:
Que passa, bela? Tem um ponto de enterrogação irrugando a sua testa.

Mariana:
Não sei…to aflita.

Daren:
Por que? Não está tudo resolvido, esclarecido, os pingos em todos os i’s?

Mariana:
Quase todos…

Daren:
Qual está faltando?

Mariana:
Aquele que você disse: “toda vez que eu te encontro alguma coisa muito ruim acontece…”

Daren:
Desencana…isso já passou.

Mariana:
Não Daren…não passou. Eu tenho medo.

Daren:
Medo do que Max?…pelo amor de Deus. Já ta tudo resolvido. Eu vendi as empresas pro doido do Mr. W, o trucão do Gustavo com a desespero praiano e a Dina já foi revelado…o Gustavo foi embora pra Espanha sei lá fazer o que, mas a minha parte da empresa foi vendida pelo dobro do que valia e ele não tem direito a isso…ta tudo certo. O que mais pode acontecer? Mais nada!

Mariana:
Eu não sei Edge…não sei. Tenho medo. To com medo de tudo. Morreu gente na porta da minha casa, você me odio, você quase morreu naquele acidente por minha culpa. Eu quis cuidar de você e não pude. Tudo deu errado Daren. É difícil apagar tudo isso…

Daren:
Difícil como? O que você está querendo me dizer?

Mariana abaixa os olhos, respira fundo, toma um grande gole de vinho.

Daren:
Fala.

Ela olha nos olhos dele, larga o cálice e segura a mão de Daren.

Mariana:
Edge…(respira fundo, mexe na mão dele, pensa duas, três vezes) Eu recebi uma proposta de trabalho…em Londres…e eu aceitei.

Daren
Como assim aceitou?

Mariana:
Eu preciso Edge…não dá pra ficar aqui. Eu vou embora.

Daren:
Quanto tempo? Um ano? Eu espero um ano.

Mariana:
Não sei quanto tempo. Muito. Bastante. Um monte de tempo.

Daren:
Eu não acredito nisso. Agora que não tem mais nada entre a gente?

Mariana:
Tem Edge. Vai ter sempre. Se não for o seu medo vai ser o meu, se não for nada vai ser a doida da minha mãe…

Daren:
Ela É doida!

Mariana:
…sempre vai ter alguma coisa. A gente começou mal…é claro que vai acabar mal. No nosso primeiro encontro eu te odiei. Devia ser um aviso. Depois, no segundo, o Pedro tomou aquele porre…sempre tem alguma coisa…

Daren:
Não!

Mariana:
Sim…tem sim sempre alguma coisa. Você tinha razão: a gente se encontra e um monte de coisas ruins acontecem. Eu não quero, Edge.

Daren:
Quer sim!

Mariana:
Não Daren. Eu não quero.

Daren:
MARIANA, eu sei que você quer.

Mariana:
Presta atenção, DAREN: EU NÃO QUERO!

Daren:
Max…presta atenção você.

Mariana:
Não Edge. Nem dá tempo. Eu estou indo pro Aeroporto.

Daren:
Você vai embora hoje?

Mariana:
Vou. Em três horas eu vou estar levantando vôo. E chega.

Daren:
O que eu faço pra mudar isso? Você me ama Max…

Mariana levanta ainda segurando a mão de Daren, dá a volta na mesa, pára em frente a ele…

Mariana:
Nada, Edge…Você não pode fazer nada.

Ela puxa Daren para um abraço. Os dois se abraçam longamente.

Daren:
Eu sei que você me ama, Max…eu te amo também.

Mariana:
Não Edge…não vale a pena…não pode…

Daren:
E eu fico aqui? Assim? Só com esse abraço e mais nada seu?

Mariana cala a boca de Daren com um beijo. Os olhos dela estão cheios de lágrimas.

Daren:
Você não quer isso, Max, está na sua cara…eu sei que você quer ficar.

Mariana beija a boca de Daren mais uma vez, pega a bolsa e sai do restaurante.
Ele se senta olhando pela janela, vendo Mariana entrar no carro e se afastar. Ele poderia correr atrás dela, mas Daren tinha esta mania horrível de achar sempre que as pessoas têm alguma razão para tomar as atitudes que tomam. Mas Mariana não estava fazendo charme. Ela queria realmente ir embora. Ela queria realmente esquecer os últimos acontecimentos e tocar a vida como se nunca tivesse sequer produzido a festa de Dina, dançado com Daren, reencontrado Mr. W.
Daren pede a conta, paga, junta da mesa sua carteira de cigarro e percebe que Mariana havia esquecido a sua. Ele pega o Marlboro vermelho de Mariana e percebe que está pesado. Quando abre, vê um isqueiro zippo e um bilhete numa dobradura tipo origami:
“Isto é para você não me esquecer. É só olhar para a lua.
Sempre sua,
Max”
É um Zippo dourado fosco, manchado, como se fosse gasto e usado, embora novo. Em um dos lados está gravado: “forever under the same moon”
Daren testa o Zippo, com um nó na garganta.

E o tempo passa…Muito tempo passa…Todo o tempo passa…
Nos anos que se seguiram, Mariana se envolveu com arte. Não tendo uma vida pessoal decente, teve todo o tempo do mundo para enfiar a cara no trabalho e fez isso com todas as suas forças. Decidida a não se casar, não ter filhos, não fazer nada além de deixar uma obra de que a humanidade pudesse se lembrar depois de sua morte, Mariana tornou-se curadora de um importante museu em Londres, expôs suas fotos ao redor do mundo mas, desde que partiu, nunca voltou a pisar em São Paulo.
Nunca…até receber a notícia da morte de sua mãe.
Não tinha jeito. Mariana precisava arrumar as malas e ir para o Brasil sem saber quando retornaria a Londres. Ela sabia tudo o que enfrentaria no Brasil: teria que dar um fim aos bens da mãe, deixar as tias tranquilas com algum dinheiro, fechar o apartamento, vendê-lo talvez…não era trabalho para dois ou três dias.

No enterro, Mariana reencontrou Pedro e Mr. W. Esta talvez tenha sido a parte mais difícil para ela. Mas mesmo com a decepção de saber que Pedro só se aproximou dela por ordem de W, a presença dele ali foi um gesto bonito…de amizade. Depois do enterro, W e Pedro pediram que Mariana jantasse com eles. Ela não tinha mesmo nada para fazer, a não ser arrumar o apartamento da Mãe e separar roupas e móveis para doar…aceitou o convite.
Durante o Jantar, a pergunta que ela não queria ouvir:

Mr.W:
E como vai o nosso Daren?

Mariana não entendeu a pergunta…Como assim, como vai o Daren? O que Mr. W pensa que aconteceu todos esse anos?

Mariana:
Não faço ideia.

Pedro:
Como assim não faz idéia? Ele não foi embora com você?

Mariana:
Claro que não Pedro! Eu fui sozinha.

Mr.W:
Mas por que? Todo esse tempo eu estava esperando a notícia do nascimento do herdeiro…qualquer coisa assim.

Mariana (rindo)
Vocês são loucos! Depois daquela confusão toda eu me despedi do Edge e fui embora pra Londres trabalhar. Aliás, foi só o que eu fiz. Trabalhar.

Pedro:
Você gostava dele! E e ele era apaixonado que eu sei!

Mariana:
Ah…meninos…eu nem devia dizer isso pra vocês…

Mr.W:
Desembucha, loira!

Mariana:
Eu acho vocês dois grandes sacanas, mesmo sabendo que queriam me ajudar. Tive muita raiva de vocês, mas não adianta…eu adoro vocês dois…e eu não tenho mais ninguém mesmo…

Pedro:
Ai para de ser você mesma! Fala!

Mariana : (rindo)
Ai que saudade disso!

Mr.W:
FALAAA!

Mariana:
Então…eu adorava o Edge. Ele era tudo o que eu sempre quis. E ainda é.
Eu não tive mais ninguém, nem quero ter. Eu morro de saudade, ainda penso um monte nele…mas não sei…eu não perdi o medo.

Aquela noite, Mariana falou sobre Daren durante horas. O nome dele foi o cardápio do jantar. Ao voltar pra casa, Mariana estava triste. Triste por entrar no apartamento de sua mãe sem ver aquela doida falando sem parar. Triste por ter repetido tantas vezes a palavra Daren, sem sequer saber se ele ainda estava vivo. Mariana dormiu na cama da mãe e acordou as 9 da manhã com o telefone.

Pedro:
Mari. Ta acordada?

Mariana:
Agora to, né? Que saudade de ser acordada por você…fala.

Pedro:
Investiguei. Já sei tudo.

Mariana:
Meu…você continua brincando de James Bond com o W? Investigou o que?

Pedro:
O Troglô-fofo.

Mariana sentou na cama num impulso só.

Mariana:
E aí?

Pedro:
Quer saber mesmo?

Ela encosta nos travesseiros.

Mariana:
Ai. Se você vai me contar que ele ta casado e cheio de filhos, to fora.

Pedro:
Ele casou. Faz tempo.

Mariana:
Ta vendo? Droga!

Pedro:
Espera, mulher! Mas o casamento durou pouco. Ele tem um filho com a garota, mas já se separou há anos e foi morar em Los Angeles.

Mariana:
Ah…grande ajuda Pedroca. Daren Ross solteiro em Los Angeles. Imagina a putaria…

Pedro:
Ele tá em São Paulo.

Mariana:
O que??? Onde?

Pedro:
Anota o nome do hotel.

Mariana:
Ai meu deus…será?

Pedro:
Maricota…você que foi embora…você que tem que procurar por ele.

Mariana:
Certo..vou pegar caneta. Pera.

E este é o ponto onde as coisas se encontram.
Dentro do carro, numa conversa enigmática, Daren e Mariana falam sobre uma mulher que há anos foi embora deixando para Daren só um isqueiro Zippo com alguma coisa gravada:

MARIANA
E se ela voltar? Você vai aceitar ela de volta?

DAREN
It’s not an option.

MARIANA
Ahn? Você não aceitaria?

DAREN
Não existe a opção de não aceitar. Ela é a mulher da minha vida... Se ela aparecer sem as pernas, eu ainda vou aceitar e cuidar dela.

MARIANA
Mas sem as pernas ela não vai mais ser uma gostosa.

DAREN (gargalhando)
Isso seria um problema!

MARIANA
Então...eu acho que você ainda a ama.

DAREN
Putz...como se ela nunca tivesse ido embora.

Mariana sorri aquele seu meio sorriso que mostra mais felicidade do que quando todos os dentes podem ser vistos, pega o Zippo outra vez

Mariana:
Você sempre usou isso, ou é só porque eu apareci?

Daren:
Nunca me separei dele. Nem um minuto.

Mariana:
Você entendeu o que eu quis dizer com isso?

Daren:
Lógico. Foi mais fácil esperar. Eu sabia que um dia…sei lá.

Mariana não fala mais. Dirige até o apartamento de sua mãe, agora seu, entra com Daren no elevador sem uma palavra. Abre a porta, puxa Daren pela mão.

Mariana:
Vinho?

Daren abraça Mariana com todos os anos que os separaram, levanta ela no colo para que fique da sua altura, beija um longo longo beijo. Sorrindo, pergunta:

Daren:
Como você conseguiu viver sem isso?

Mariana:
Cala a boca…

Mariana beija Daren outra vez, ele a encosta na parede de sala e nunca mais param de se beijar. Daren e Mariana passaram dias e dias trancados naquele apartamento sem abrir a porta para nada além do entregador de pizza.
Uma noite dessas, caminhando à beira da praia, lembraram como era difícil antes imaginar que tudo isso pudesse acontecer. Na verdade, nenhum dos dois jamais acreditou na vida que construíram juntos. Estão sempre esperando que uma bomba caia em suas cabeças e os separe novamente. Talvez por isso seu amor é, hoje, tão forte quanto no primeiro dia.

Nunca mais Daren e Mariana souberam como seria um dia em que não acordassem juntos.

FIM

19 de abr. de 2007

Daren e Mariana XXII

por Gravata (Desafio Caixa Preta)





TEMPO ATUAL, SÃO PAULO
CASA DE PEDRO


Pedro (ao telefone)
- Tudo certo por aí?

Mr. W
- Sim. Ele está a caminho.

Pedro
- Ótimo. Precisamos resolver isso logo.

Mr. W
- Já está resolvido. Estou aqui no barco, ele vem para cá.

Pedro
- Que bom... Ah! Daren e Mariana estão juntos...

Mr. W
- Eu sei. Eu mesmo vi. Foi engraçado, até... Ótimo, né?

Pedro
- Ótimo, ótimo. Deu tudo certo.

Mr. W
- Sempre dá. Depois te ligo, tenho uma enfadonha pescaria pela frente...

Pedro (rindo)
- Seu filho da puta!

* * *

1979, RIO DE JANEIRO
PRAIA DE COPACABANA


Um menino e uma menina se olham na praia, os dois com algo em torno de seis anos de idade. Ele é negro, ela branca. Mas, curiosamente - sobretudo em um lugar como o Brasil e o ano em questão - ele é bem mais rico do que ela.

O flerte acaba rapidamente, pois a praia é tomada por um burburinho. Todos se juntam na beira do mar para ver o que está acontecendo. Ele e ela, que até então se olhavam, são abraçados pelas respectivas mamães.

Quinze minutos depois, tudo é esclarecido: um norte-americano, muito branco e magricela, visivelmente embriagado, estava praticamente se afogando. Um banhista o salvou e tudo ficou por isso mesmo. A praia voltou ao normal.

Coincidentemente, o estrangeiro-quase-afogado era pai do menino negro e rico; e o herói-salvador-da-pátria era pai da menininha branca. Mais uma vez, ambos se olharam, encantadinhos no limite da possibilidade de encanto para crianças daquela idade.

E foi isso.

* * *

2000, SÃO PAULO
ESCOLA DE FOTOGRAFIA


Lá estava Mariana, em mais um desses cursos que ela faz. Primeiro, foi desenho; depois, websesign. E agora, para espanto de muitos conhecidos, fotografia. Como sempre acontece, ela adora as aulas, adora o curso, adora as técnicas aprendidas, mas nunca usará nada disso em seu dia-a-dia.

Ela é viciada nisso, e o vício consiste basicamente em fazê-los, aprender o que se ensina nas aulas, e pronto.

Já estava havia duas semanas no curso, quando um novo aluno chegou. Pelo jeito de andar, Mariana matou logo a charada: é gay. O tempo foi passando, os demais alunos não se aproximavam do tal 'novo colega que é gay', e Mariana naturalmente foi se tornando amiga do inteligente e simpático sujeito.

Foi assim que começou sua amizade com Pedro.

* * *

JANEIRO DE 2007, SÃO PAULO
D-EDGE

Pedro e Mariana estavam dançando feito dois alucinados na pista, quando um homem muito bonito e todo fortinho se aproximou, e em pouco tempo seduziu Pedro.

Os dois ficaram juntos naquela noite, e em outras, e mais outras tantas; o rolinho se tornou namoro e logo passaram a morar juntos. Ademir e Pedro sempre pareceram ter nascido um para o outro.

* * *

TEMPO ATUAL, IBIZA
BARCO DE MR. W


Gustavo chega de helicóptero e é levado ao convés por uma loira linda e muito bronzeada, de topless. Ao chegar, se depara com Mr. W, que usa uma calça branca, sem camisa, havaianas, uma pequena correntinha de ouro e uma boina também branca. E fumando charuto.

Mr. W
- Olá, Gustavo! Sente-se! Temos tanto a conversar, não é?

Gustavo
- Sim, claro... Acho que tudo deu certo.

Mr. W (sorrindo aquele sorriso de Mr. W)
- Mas você não sabe o quanto! Quer um charuto? Quer beber alguma coisa? Ah, nem sei por que pergunto...

Em francês impecável, Mr. W se dirige a alguém que está em outro compartimento do barco, e pede uma garrafa de whisky, dois copos e um balde de gelo.

Gustavo mantém o sorriso e aguarda ansioso o desfecho do plano que arquitetara. Chegou a hora de colher os frutos. Mas seu sorriso é interrompido por uma imagem que ao mesmo tempo o encanta e assusta tremendamente.

Quem traz as bebidas é Vivianne, ainda conversando em francês com Mr. W. Ela veste um roupão, está descalça, totalmente bronzeada, cabelos molhados, pingando pelo barco...

Mr. W
- Presumo que a conheça, e provavelmente pelo nome de Vivianne. Bom, se serve de consolo, o nome ao menos é verdadeiro. Mas, como eu ia dizendo, tudo deu muito certo, Gustavo. Muito certo. Agora, sim, podemos conversar...

Gustavo permanece atônito. Não sabe o que dizer, não consegue dizer nada. Está sentado, segurando seu copo. Mr W prossegue:

Mr. W
- Gustavo, Gustavo... Você não é um sujeito burro. Você é esperto. E também inteligente. Mas não inteligente o bastante para supor que houvesse alguém mais inteligente.

Gustavo
- Olha, com certeza houve algum grande engano...

Mr. W
- Engano nada! Cagada, mesmo. Burrice. E sua. Deixa eu falar, toma seu whisky. A parte boa é agora, pô! Eu falo, você ouve e fica deslumbrado com o plano mirabolante etc etc etc. Odeio gente que não aprecia a delícia dessa cena. Quer um charuto?

Gustavo permanece em silêncio, sem saber se aceita ou recusa, sem saber qualquer coisa. Mr. W continua:

Mr. W
- Você armou um bom plano. Medíocre em alguns aspectos, ousado em outros, mas não deixa de ser um planinho bom. Vamos lá: ganha a simpatia de Dina, pega uma grana, coloca Daren numa armadilha para ele vender a empresa inteira por um preço baixíssimo e depois recebe o valor por fora - afinal, você entregou a mim toda a lista de fornecedores e compradores.

Gustavo em silêncio.

Mr. W
- Confesso que foi divertido comprar as três empresas. Mas não paguei um valor abaixo do mercado. Paguei muito acima, até. Ah, com um detalhe: elas não estão no meu nome. Continuam no nome de Daren.

Gustavo (praticamente pulando da cadeira)
- Como assim???

Mr. W
- Por favor, sem exaltação. Sente-se, Gustavo. A essa altura, você já deve ter percebido que esses arroubos seriam um péssimo negócio. Senta aí, beba e ouça. Ok?

Gustavo então se senta, assustado e visivelmente nervoso.

Mr. W
- Seu plano tinha alguns buracos. O primeiro deles é um tanto óbvio: você não me procurou, mas sim eu que te procurei. Um bom estrategista está sempre no comando, mas você rapidamente se deixou comandar. Enfim, quem nasceu pra lagartixa, nunca chega a jacaré.

Gustavo quieto.

Mr. W
- Eu sempre soube que o Daren havia se associado a um escroque, mas não imaginava que seria desse nível. Assim que me chegou a notícia de que você estava pensando na venda/golpe, eu "caí do céu", me oferecendo como comprador. O resto, bem sabemos, foi nossa negociação. Compro barato, passo a você uma grana, você foge e blábláblá.

Gustavo quieto.

Mr. W
- Escuta... Você não achou estranho a Vivianne neste barco?

Gustavo
- É claro que achei! Não estou entendendo nada...

Mr. W
- Obrigado por dar a deixa. Eu gosto de interlocutores mais ativos, Gustavo. Sem arroubos, sem chiliques, mas pelo menos um tanto curiosos. Agora vamos falar da Vivianne.

Gustavo quieto.

Mr. W
- Tenho uma certa facilidade para obter informações, como você já deve ter notado, de modo que não foi muito difícil descobrir que Dina procurava uma mulher para seduzir Daren. Então, infiltrei Vivianne. Peço desculpas por interferir até mesmo nesse plano paralelo, mas confesso que não gosto de ver nada dar errado. Tenho que cuidar de todos os detalhes.

Gustavo quieto.

Mr. W
- Logo que Vivianne ameaçou abrir a boca, você se antecipou e mostrou algum traço de caráter. Afinal, seria bom ter a confiança de Daren, já que você fugiria com o dinheiro das empresas, não é mesmo?

Gustavo engole em seco (mesmo com o copo de whisky na mão)

Mr. W
- Você não acha que falta algo nessa história?

Gustavo
- Não sei o que dizer. Eu não vou arrumar briga, não quero morrer, eu queria receber a minha parte e pronto.

Mr. W (dando uma espécie de "bronca", mas com muito cinismo)
- Gustavo! Gustavo! Não disfarça, Gustavo! Não está faltando nada?

Gustavo
- Acho que você já falou tudo. Não preciso ouvir de novo a história.

Mr. W
- Ademir, Gustavo! Ademir! Foi como seu plano começou! Seu plano começou com o Ademir! Você colocou o cara para vigiar o Pedro, porque o Pedro era próximo de Mariana e você - como amigo de Daren - sabia da importância da moça. Ela contaria as conversas com o Daren para o Pedro, Pedro contaria para Ademir, e este último contaria para você.. Como eu disse, você não é burro. Mas também não é o Einstein.

Gustavo volta a ficar quieto.

Mr. W
- Porque o Pedro, olha que curioso, trabalha para mim há pelo menos 20 anos. Eu o aproximei de Mariana. E ele já sabia das intenções do Ademir antes mesmo da primeira abordagem na boate.

Gustavo intensifica mais o já desagradável semblante de surpresa.

Mr. W
- Confesso que não teria nada contra seu planinho. Não mesmo. O problema é que ele tornaria a vida da Mariana mais difícil. E foi por isso, somente por isso, que resolvi meter meu bedelho.

Gustavo
- Mariana? O que ela tem com isso?

Mr. W
- Você não olha pra frente, Gustavo. Você olha dois, três passos adiante, mas não vê a estrada toda - gostou da metáfora? Mas, enfim... Você não vê o tabuleiro inteiro.

Gustavo
- Que tabuleiro? A Mariana não tem nada com isso!

Mr. W
- Tem tudo com isso! Ela e Daren se amam. Se você depena o Daren, isso complica para a Mariana. E nada pode complicar para a Mariana.

Gustavo
- E você é o anjo-da-guarda? O Senhor Bondade?

Mr. W
- Algo assim. Eu devo a ela, e já tentei pagar de formas mais diretas. Ela é toda orgulhosinha. Então sempre me empenhei em colocar pessoas em sua vida para garantir que tudo sempre desse certo. Claro, ela nunca poderia saber disso.

Gustavo
- E onde entra o Daren nisso?

Mr. W
- Ele continua dono das empresas, o repasse financeiro foi feito mesmo assim.

Gustavo
- Você teve prejuízo financeiro para ajudar o Daren que, na sua cabeça, será o marido da Mariana?

Mr. W
- Não, não... Eu tive lucro. Quando fiz a compra, eu operei em dois mercados, comprando ações de alguns fornecedores na véspera e vendendo dois dias depois. Ganhei o bastante para comprar dez vezes aquelas três empresas. Não, Gustavo, não sou um bom samaritano e não deixei Daren mais rico porque sou um bocó. Eu ganhei muito dinheiro com isso.

Gustavo
- E a minha parte?

Mr. W
- Sem anedotas a essa altura, ok? Deixa eu continuar... O Sr. Takahishi, que por sinal você conhece, a essa altura deve estar conversando com Daren, e falará a respeito do que houve. Ao final da conversa, daquele jeito discreto que só mesmo o Taka é capaz, dirá que seria de bom alvitre que o dinheiro pago pelas empresas fosse empregado para o conforto de Mariana.

Gustavo
- Porque você não deu o dinheiro para ela?

Mr. W
- Porque ela não aceita! Você não conhece as pessoas, Gustavo. Você conhece, e não tão bem, apenas a si próprio. Não é todo mundo que se deixa manipular. Às vezes, é preciso mexer com todo o universo para atingir uma única pessoa, pois muitas vezes esse alguém não permite ajuda alguma. É o caso da Mariana.

Gustavo
- E por que você a ajuda?

Mr. W
- Coisas de família. Antes de falecer, meu pai disse que a única dívida que não deixou paga, em toda sua vida, foi aquela do homem que o salvou de um afogamento. Eu lembro até hoje desse dia, e empenhei alguns esforços para descobrir tudo que houve. Era o pai de Mariana, que já havia falecido quando finalmente encontrei a família. Desde então, além de navegar, jogar golfe e cair na esbórnia, eu tenho feito muito por aquela mulher.

Gustavo
- Ela vai descobrir tudo, não acha?

Mr. W
- Claro que não! Eu faço do jeito certo, ao contrário de você. Aliás, o que foi aquilo de contratar o amadorzinho passional do Ademir? Ele quase complicou tudo para nós dois - mais para você, é claro. Com sua morte, você se sentiu relativamente aliviado, não é?

Gustavo (tentando parecer calmo, mas ainda totalmente abalado)
- Não vou falar do Ademir... Mas e a Dina?

Mr. W
- Está quebrada. Só vocês ainda acham que aquela mulher tem algum dinheiro. Ela está consumindo o patrimônio da família. Pelos meus cálculos - e é difícil eu errar nisso - ela entra no vermelho em três meses.

Gustavo
- Você não vai me pagar nada? Eu vou ficar na merda nessa história?

Mr. W
- Não. Você sabe o que te acontece. Seja homem e enfrente seu destino. Bom, pelo menos é isso que eles falam naqueles filmes de samurai. Eu sinceramente os acho uma porcaria. Tchau, Gustavo.

Em poucos segundos, Mr. W apanha sua arma, que estava sob a almofada do sofá, e dá apenas um tiro em Gustavo. O disparo o atinge entre os olhos. Vivianne então aparece, com cara entediada.

Vivianne
- Nossa, mas você fala demais!

Mr. W
- É, né? Mas matar não tem a mínima graça. Legal mesmo é ver a cara de bobo do coitado. Agora ele parece um peixe morto, olha só (apontando para Gustavo, que jaz no sofá). Isso é sem graça! Esse discurso foi para matá-lo aos pouquinhos.

Vivianne
- Você é cruelzinho, senhor "dáblio" (ela pronuncia de forma jocosa).

Mr. W
- Sou nada. Sou bonzinho até demais. Pelo menos dou um jeito dessa bondade gerar lucro. Bah! Isso é bobagem... Vamos comer?

Vivianne (apontando para Gustavo)
- O que faremos com ele?

Mr. W
- Se quiser fazer sua oração, fique à vontade. Jajá ele vai pro mar. E eu vou comer, porque estou com uma fome dos diabos. Sugiro que me acompanhe, dona Vivi, pois o cheiro de lagosta que vem da cozinha é dos mais aprazíveis...

Os dois caminham de mãos dadas, deixam para trás Gustavo morto no sofá.

* * *

TEMPO ATUAL, SÃO PAULO
ESCRITÓRIO DE DAREN


Daren finalmente termina a conversa com Takahishi. Ele está, ao mesmo tempo, feliz e cheio de dúvidas. E também um tanto assustado. Mas, acima de tudo, está radiante.

Puto da vida com Gustavo, é verdade, mas presume que o "amigo" não voltará tão cedo a São Paulo.

Numa mesma semana, ele perdeu um grande amigo. Ou melhor, descobriu que o suposto amigo era um calhorda. E também dobrou seu patrimônio.

Ainda por cima, todos os embaraços e obstáculos que o mantinham afastado de Mariana parece que já se foram. Ele só pensa nela. Tudo isso aconteceu, mas é nela que ele pensa.

Seus olhos, sua boca, seu cheiro, seu gosto, sua voz. E é com ela que ele almoçará hoje.

CONTINUA...

18 de abr. de 2007

Daren e Mariana XX




Por Felipe Belão Iubel – Desafio Caixa Preta


Ainda no apartamento.

Após sete segundos de silêncio e de rostos pálidos, Mariana levanta e empurra sua mãe para fora do quarto e tranca a porta com duas voltas na chave. A mulher reclama, grita, estapeia a porta e se descontrola completamente. Age como se, na verdade, fosse Daren o culpado por ela estar para fora.

Louca-Mãe-Louca-da-Vida
Me deixa entrar, seu monstro! Não vou permitir que você machuque minha filhinha!

Mariana
Edge, precisamos conversar mesmo. Essa história está saindo do controle. É como se existissem várias pessoas juntando pedaços e, para nós dois, nenhum desses pedaços parecem estar se encaixando.

Daren
Concordo. Mas, antes de qualquer coisa, preciso entender esse negócio do Mr. W. Você conhece esse cara, Max?

Mariana
Conheço sim. Ele foi...

Daren (levando as mãos à cabeça)
Puta-que-o-pariu! Fodeu mesmo!

Louca-Mãe-Louca-da-Vida
Abra essa porta já, seu seqüestrador pervertido!

Mariana
Fodeu o quê? Deixa eu terminar de...

Daren
Fodeu tudo!

Louca-Mãe-Louca-da-Vida
Ninguém vai foder nada enquanto eu estiver nessa casa! Abra a porta!

Daren
Agora tudo faz sentido. Por isso que esse cara quer comprar minha empresa.

Mariana
Que cara?!

Daren
O Mr. W do caralho! Ele me encontrou nos Estados Unidos. Fez uma puta chantagem para eu vender minha empresa pra ele.

Mariana
O Mr. W.? Meu Mr. W.?

Louca-Mãe-Louca-da-Vida
Quer que eu ligue pro Mr. W, filhinha? Eu vou ligar. Vou dar um jeito dele vir até aqui pra pegar esse cara que me trancou pra fora.

Daren
Se ele é seu ou não... Daí, já não sei. Mas se você tá falando de um negão enorme com pinta de mafioso afro-italiano misturado com Vin Diesel e Jack Bauer... é dele que eu tô falando.

Mariana
Ai! Fodeu!

Louca-Mãe-Louca-da-Vida
Quem fodeu, Mariana? O que está acontecendo?

Mariana
Cala a boca, mãe! E pára de espancar a porta! Se você não parar vou contar para todo mundo que o botox da sua cara é gordura de outra parte do corpo... e vou contar do corpo de quem!

Silêncio do outro lado da porta.

Mariana
E você, Edge, chega de mentiras. Trata de me contar tudo direito.

Daren
Então...

Mariana
E cuidado pra não ofender minha inteligência. Quero só a verdade dessa vez.

Louca-Mãe-Louca-da-Vida
Isso mesmo, filhinha! Dá um jeito nesse seqüestrador.

Mariana
Mãe, lembra do botox que não é botox e vai pra sala ver tv.

Daren
Posso começar?


Apartamento de Mariana enquanto a conversa acontece.

A Louca-Mãe-Ainda-Mais-Louca da vida vai resmungando até a sala. Liga a televisão e começa a passear pelos canais de tv a cabo. Ela resmunga interminavelmente. Olha para cima e respira fundo após passar por todos os canais disponíveis. Muda de posição no sofá. Vai até a cozinha e deixa a tv falando sozinha. Volta e senta na mesma posição com um copo de água. Senta. Troca mais algumas vezes de canal. Deixa o sofá sozinho novamente. Volta com uma taça cheia de vinho. Senta. Resmunga. “Botox! Vê se pode! Contar pra todo mundo! Vê se pode! Que se vire com o seqüestrador também!” Troca de canal. Levanta. Volta pro sofá com uma garrafa de vinho e com a taça transbordando.


No quarto...

Mariana
Isso não faz o menor sentido, Edge! Por que a Dina estaria interessada em mim?

Daren
Se eu estou interessado... por que ela não estaria?

Mariana
E desde quando você é parâmetro em assuntos relacionados a mulheres?

Daren
Não precisa ofender. E não é bem assim...

Mariana
Ahh.. Não é? Quer que eu enumere? Vou começar pela “Desespero Siliconado”.

Daren
Foco, Max. Vamos nos concentrar nos fatos. Já expliquei essa parte da Vivianne.

Mariana
Ah! Agora é Vivianne! Mas tá bom! Não vou ficar discutindo sobre isso e nem sobre a Dina. Até porque tem uma cena bizarra vindo à minha mente agora.

Daren
Que cena?

Mariana
De outro dia que eu fui até a casa dela e ela tava com uma camisola erótica e me ofereceu champanhe e continuou com aquela camisola. Ui, que nojo!

Daren
Viu só! É verdade! É só somar os fatos e você vai perceber que é verdade.

Silêncio. Daren olha nos olhos de Mariana. A atração dos dois é tão forte que eles começam a se aproximar. Porém, antes de qualquer coisa, Mariana vira as costas e começa a falar novamente.

Mariana
Tá! Digamos que seja verdade essa parte da Dina. Mesmo assim, eu não consigo acreditar nessa coisa toda do Mr. W. querer comprar sua empresa! Isso não pode ser verdade. Por que ele faria uma coisa dessas?

Daren
Por ciúmes. Vai saber. Eu tenho ciúmes de você. Acredito que ele deve ter motivos para ter ciúmes também. Quer me afastar de você. Acabar com minha carreira.

Mariana
Não pode ser! Ele é o tipo de cara que faz tudo por alguma razão. E a razão é sempre boa no final das contas. Eu vou ligar pra ele. Quero saber o porquê disso tudo. Quero saber tudo. Começando pela aparição dele aqui em casa.

Daren (gritando)
Aqui?! Ele veio aqui?!


Na sala a mãe continua tomando vinho, mudando os canais da tv e resmungando. Ela olha para cima cada vez que escuta um grito vindo do quarto. Olha para cima e toma mais um gole de vinho. A taça esvazia. Ela deixa o sofá sozinho. Volta com sua bolsa. Larga a taça de lado. Coloca o revolver dentro da bolsa. Troca mais algumas vezes de canal e resmunga. “Botox! Vê se pode! Contar pra todo mundo! Vê se pode! Que se vire com o seqüestrador também!” Larga o controle. Pega a bolsa outra vez. Procura algo dentro. Encontra seus tranqüilizantes e coloca logo três na palma da mão. Pega a garrafa de vinho e toma os três comprimidos misturados com o líquido. Tudo direto da própria garrafa.


No quarto... a conversa continua.

Daren (ainda gritando)
Quer dizer que ele vem aqui. Você esquece de mim. Me larga. Dorme com ele e acorda com ele atirando no Ademir?!

Ele se aproxima de Mariana. Novamente, a troca de olhares é efusiva.

Mariana (calma)
Não faz drama, Edge. Você dormiu com a “Desespero Siliconado”, lembra?

Ela também se aproxima. Não tem mais forças para evitar nada nessa altura dos acontecimentos.

Daren (gritando mais)
Sim! Mas ela não atirou em ninguém.

Ele já não controla seu corpo. Seu braço leva sua mão para perto da dela.

Mariana (agora nervosa e gritando)
Não atirou em ninguém, mas te chamou pra uma suruba com outra mulher, enquanto quem tentava te foder de verdade era o teu amigo e a Dina. Se é que tudo isso é verdade.

Mariana dá um tapa na mão dele e, ao mesmo tempo, chega mais perto.

Daren
É, mas...

Um beijo.


A música “Behind closed doors” toca no Multi Show enquanto a Louca-Mãe-Muito-Louca-Adormecida ronca.


Continua...

17 de abr. de 2007

Daren e Mariana XIX



Por Flavia Melissa - Desafio Caixa Preta



Casa de Mariana. Onze e vinte de uma manha de sábado, o prédio está tranquilo e silencioso.

Daren sobe os degraus sentindo o coração bater mais rápido, enfim ia tê-la para si, enfim ia poder dizer aquilo com que vinha sonhando há meses, desde que aquela loira que sonseguia ser louca e angelical ao mesmo tempo havia saído diretamente do mundo virtual para o mundo real.

Assim que chegou à porta da casa de Mariana, respirou fundo e tocou a campainha. Enquanto esperava que a porta fosse aberta, tentou organizar os pensamentos na sua cabeça. Não seria fácil, a história era completamente louca e non sense, mas ele teria que contar a verdade. Que Dina era apaixonada por ela. Que havia contratado Gustavo, que havia contratado Vivi, que havia levado-o ao desespero praiano, que...

Silêncio. Nada de passos no interior do apartamento. Nada de barulho nenhum. Nada de nada. Como havia sido informado pelo porteiro de que ela estava em casa, achou aquilo muito estranho, pois silêncio completo não combinava com a idéia de Mariana em casa. Tocou mais uma vez a campanhia. Uma terceira vez, e nada.

Não saberia explicar sua atitude caso fosse questionado mais tarde, mas toda aquela paranóia de Mr. W. Querendo adquirir suas empresas à força e a conspiração de Dina, Gustavo e Viviane fizeram-no pensar que algo tivesse acontecido com Mariana. Sem pensar duas vezes, gira a maçaneta da porta, que se abre sem dificuldade.

Daren olha cautelosamente dentro do apartamento, mas não encontra nenhum sinal de Mariana. Entra no apartamento, encostando a porta. Olha ao redor, identifica o princípio do corredor e vai até ele, percebendo a luminosidade que vem de uma porta entreaberta. Quando chega lá, olha dentro do quarto e a vê, deitada encolhida, como uma criança.

Arrebatado pelos sentimentos confusos, Daren caminha até a cama e se senta nela, fitando Mariana sem parar. Depois de um tempo completamente imóvel, começa a se aproximar devagar, os lábios ficando cada vez mais próximos...

Louca
Pare, se não eu atiro!

Daren (levantando-se de uma só vez)
Quem é você?

Louca
Afaste-se da cama! Agora!

Daren
Calma... eu não sei quem você está pensando que eu sou, mas...

Louca
De joelhos! Agora!

Daren (ajoelhando-se no chão e colocando as mãos atrás da cabeça)
Eu posso explicar eu...

Louca (aproximando-se de Mariana)
Quem é você? E o que está fazendo aqui?

Daren
Eu é que te pergunto!

Louca
Quanto vocês iam pedir de resgate? Hein? Hein?

Daren
Resgate? Do que é que...

Louca (olhando fixamente para Mariana)
Vocês se acham o máximo, sequestrando as pessoas... manipulando-as e fazendo com que liguem para as famílias com voz desesperada... Conheço muito bem gente da sua laia!

Daren
Mas eu não...

Louca
Qual ia ser o próximo passo, hein? Pedir que eu comprasse créditos para carregarem seus celulares dentro da prisão?

Daren (fazendo menção a se levantar)
Minha senhora, a senhora deve estar me confundindo, eu não sou seq...

Louca
De joelhos!

Em sua cama, Mariana abre os olhos. E a cena que vê parece mais impossível de estar acontecendo do que qualquer um dos acontecimentos anteriores. Daren, de joelhos, sob a mira de um revólver empunhado por sua própria mãe.

Mariana
Mãe?

Louca (olhando para Mariana e baixando um pouco a guarda)
Filha?

Daren
Hã?

Mariana
Edge?

Louca-Mãe
Quem?

Mariana (levantando-se da cama)
Mas o que é que está acontecendo aqui?

Daren
Essa mulher é sua mãe?

Louca-Mãe
Você conhece esse mau elemento?

Daren
Mau elemento?

Mariana
Edge, o que você está fazendo aqui?

Daren
Eu vim falar com você, mas você não respondeu à campanhia

Mariana
E aí você foi simplesmente... entrando?!

Daren
Eu... pensei que talvez... eu sei que foi bobagem mas...

Louca-Mãe
Vocês... se... conhecem?

Mariana (olhando o revolver e percebendo que sua mãe estava armada)
Mãe! Quer fazer o favor de abaixar essa arma? De onde você tirou isso?

Louca-Mãe
Com todo aquele papo desconexo no telefone... Eu conversei com a tia Silvana, e ela me alertou para o risco de ser um daquelas modalidades novas de sequestro... Um disk sequestro!

Mariana
Disk sequestro? Mãe, mas o que...

Daren
A senhora me confundiu com um sequestrador?

Louca-Mãe
O que você queria que eu pensasse? Minha filha me telefona dizendo frases desconexas. Frisa que não devo vir armada. Eu chego aqui e o porteiro diz que um homem acabou de chegar, eu entro e vejo você caída na cama, com esse rapaz quase te beijando...

Mariana
Quase me beijando?

Daren
Quase a beijando?

Louca-Mãe
Reuni todos os meus conhecimentos adquiridos por anos na frente da TV acompanhando essas séries policiais que eu adoro e fiz o melhor que eu pude!

Mariana
E essa arma?

Louca-Mãe
Ah, essa arma é do papai.

Mariana
Do papai?

Louca-Mãe
Sim, você não se lembra quando era pequena e viajávamos pra casa de praia? Que ele achava que era necessário no caso de algum ladrão aparecer? (de repente pára de falar, parecendo se dar conta de que Daren está lá) Mas... e você? Quem é?

Daren
Eu... eu sou, bem...

Louca-Mãe
Você é o ex namorado?

Daren
Ex namorado?

Mariana
Não! – se levanta, colocando-se entre a mãe e Daren e fazendo caretas.

Louca-Mãe
Que é isso Mariana? Você deveria se envergonhar, oras bolas. Sou sua mãe e não sei quem é seu ex namorado?

Daren
Que ex namorado?

Mariana (fazendo caretas)
N-nhum e-namo-do, mãe!

Louca-Mãe
Bom, eu não tenho como saber. – levanta-se e começa a tirar as roupas jogadas de Mariana de cima do sofá, a abrir as janelas, uma coisa bem “mãe” mesmo - Tudo o que sei é que um americano esteve aqui com um pudim de silicone, bateu o carro e entrou em coma. Mas você – olhando para Daren – obviamente não está em coma. Você é o pudim de silicone?

Mariana
Mãe! – Mariana anda até a mãe e começa a pegar suas roupas de suas mãos – Não é nada disso. Ele não é um pudim de silicone.

Daren
Obviamente eu poderia perder uns quilinhos mas...

Mariana
E nem é americano.

Daren
Não, não, sou bem brasileiro mesmo.

Mariana
Mas foi ele que bateu o carro sim. E esteve em coma. É uma longa história.

Daren
Vocês nem sabem o quanto.

Mariana
Mãe... Será que você pode nos dar licença? Tenho umas coisinhas a tratar com Edge.

Louca-Mãe
Ah, na hora em que está arrasada e dopada você me procura, e agora não perde a chance de ter 5 minutinhos sozinha com esse rapaz?

Mariana
Mãe, por favor... São só cinco minutos. Depois te explico tudo.

Louca-Mãe
Olha, só 5 minutos, hein? Estou começando a desconfiar que você não anda em seu perfeito juízo.

Daren (falando baixinho)
Se for isso mesmo, tem de quem puxar...

Mariana – fechando a porta do quarto
Edge!

Daren
Ué, você não pode me culpar por achar sua mãe meio biruta... Me confundir com um sequestrador?

Mariana
O que é que você está fazendo aqui? Pensei que você tinha entendido o recado.

Daren
Max, me ouça. Depois de me ouvir, você faz o que quiser da sua vida. Pode nunca mais me ver, se não quiser. Mas me escute primeiro.

Mariana
Proposta tentadora. – Senta-se na cama – Sou toda ouvidos.

Daren anda nervosamente pelo quarto, passando a mão no cabelo.

Daren
Max... Sei que isso parece loucura. Vou estritamente aos fatos sem ficar de rodeios, porque os rodeios não vão ajudar você a entender a pataquada que tá acontecendo.

Mariana
Devo confessar que, vindo de você, nada mais me espanta.

Daren
Max, apenas me ouça, tá bom? Olha só, a Dina tá a fim de você.

Mariana
Hã?

Daren
E contratou o meu amigo Gustavo prá tentar ferrar nós dois.

Mariana
Hã????

Daren
E o meu “amigo” (fazendo aspas com os dedos) Gustavo contratou desespero praiano prá queimar o meu filme.

Mariana
Edge, fala sério. Você “realmente” (fazendo aspas com os dedos) acha que eu vou acreditar nessa história?

Daren
Pois é, eu sei. Aliás, nada de muito normal vem acontecendo na minha vida nos últimos meses, desde que você entrou nela. Eu sei que o que pode parecer é que eu tô apenas arrumando desculpas prá justificar a cena que você viu no restaurante, mas eu juro que estou falando sério.

Mariana
Olha, eu só não vou descartar por completo a possibilidade de você estar dizendo a verdade porque coisas inimagináveis também tem acontecido na minha vida desde que nos conhecemos pessoalmente. Mas até prá uma história louca, a sua está louca demais.

Daren
E você não sabe o quanto. Prá completar ainda tem esse cara dos Estados Unidos, que está me chantageando a vender as minhas empresas ou o cara vai me falir, mas isso eu acho que não vem ao caso.

Mariana
Olha Edge, eu admiro a sua atitude de ter vindo até aqui com a intenção de me fazer acreditar em você, mas acho que você concorda comigo que está indo longe demais.

Daren
Ok, você pode duvidar. Eu também duvidaria de você, se fosse você a me contar essa história.

Mariana
Que bom que concorda comigo.

Daren
Mas o fato é que, com loucura ou sem loucura, eu tenho que te dizer uma coisa.

Daren se aproxima de Mariana, sentando-se na cama ao seu lado.

Daren
Eu não sei se isso vai servir de alguma coisa, mas o fato, Max... É que eu não consigo parar de pensar em você. Não sei o que acontece comigo, eu nunca fui assim. Eu sempre consegui racionalizar muito bem os meus pensamentos, mas agora não tá mais dando. Eu acho... Bom, é apenas uma suspeita, e eu gostaria muito que isso fosse mentira, porque me pouparia um trabalho daqueles, mas o fato é que eu acho que estou apaixonado por você.

Mariana fita Daren boquiaberta. Daren vai se aproximando aos poucos, os lábios ficando cada vez mais próximos... No momento em que se tocam, a porta abre de repente e a mãe de Mariana entra, sem perceber a cena que estava se desenrolando:

Louca-Mãe
Ah, filha, você falou em americano e não sabe de quem eu me lembrei. Lembra daquele rapazinho lindo, aquele negro deus do Ébano que você namorou durante a faculdade? O Sr. W.?

Daren pula da cama, olhando para Mariana.

Daren
Mr. W.?

CONTINUA...

Daren&Mariana XVIII


Por Mercedes Gameiro - Desafio Caixa Preta




INTERLÚDIO

...enquanto isso, na casa de Mariana...

As torradas pulam na torradeira. Uma grande colheirada de cream cheese é espalhada em uma delas. Café quente cai numa caneca exagerada. Com olheiras e desgrenhada, Mariana come completamente sonada, enquanto fala no telefone. A tela se divide e vemos a mãe de Mariana do outro lado da linha. Cinquenta e poucos anos, peitos de silicone, muito botox no rosto, cabelos minuciosamente desalinhados.

Mariana:
Mãe?

Mãe:
Oi filha…achei que tivesse me esquecido.

Mariana:
Isso não acontece.

Mãe:
Por onde andas, menina? Tenho ligado na sua casa, mas nem a secretária eletrônica atende.

Mariana:
Ah mãe…se você soubesse…

Mãe:
Por que você não tenta me contar?

Mariana:
Lembra daquela música do Cazuza que diz que “só as mães são felizes”?

Mãe:
Xiiii… não to gostando disso. Como assim, Mariana?

Mariana:
É melhor você não saber de nada, pra continuar feliz.

Mariana olha para debaixo da mesa e lembra do corpo da vizinha estatelado e ensanguentado, e puxa os pés para cima da cadeira, como se o corpo ainda estivesse lá.

Mariana continua:
Ah mãe…ta tão difícil…
Acho que eu queria voltar a dormir no meu quarto aí na sua casa…ser acordada pra ir para a escola, só fazer o que você deixar…só comer o que você mandar…só ir onde você quiser.

Mãe:
Meu deus! A coisa está negra mesmo hein? Quer fazer o favor de parar de me enrolar e contar o que está acontecendo?

Mariana:
Que parte você quer saber? A que eu encontrei o homem da minha vida e um pudim de silicone roubou ele de mim sem o menor esforço, com um simples chacoalhar de peitos? Ou a parte que o meu namorado americano apareceu, mas meio mundo resolveu morrer ao mesmo tempo, a polícia chegou e foi rendida por ele…e ele desapareceu como um pum no vendaval?

Mãe:
O que? Calma. Não entendi nada. Quem é o homem da sua vida? Que namorado americano? Onde você viveu os últimos 20 anos que eu não sei nada da sua vida?

Mariana – com a cabeça debruçada nos joelhos:
Ah minha mãe…acho que eu quero colo.

Mãe:
Mariana, eu estou falando sério. No que você anda metida? Que coisa de polícia é essa?

Mariana:
Foi acidente, mãe. Aliás, teve um acidente também. Ele bateu o carro, ficou em coma…apreceu a mulher dele, mas era de mentira…eu vim pra casa furiosa, e meu amigo foi baleado pelo namorado…o meu namorado apareceu e baleou o namorado dele também…a polícia chegou e a velhinha tava morta…Ele saiu do hospital e foi embora pra Miami…mas antes a peituda sentou no colo dele e eu larguei os dois no restaurante…

Mãe:
Ai…não to entendendo nada! Ele quem? O namorado? Que velhinha? Ele é casado? Ai meu deus, Mariana!

Mariana:
…depois meu mundo caiu…depois eu quase deixei uma garrafa de champagne me guiar. Depois eu me perdi e não sei mais onde está a ponta dessa linha, mãe.

Mãe:
Mariana, você está usando drogas?

Mariana:
Boa idéia…

Mãe:
Que horror! Não diga isso!

Mariana:
Não aguento mais…juro.

Mãe:
Eu estou indo para aí, minha filha. Vou te levar um calmantinho e você me conta direito toda essa confusão, está bem?

Mariana:
Tanto faz, mãe…só vem desarmada por favor. Eu juro que perdi o controle da situação mas não provoquei nada do que está acontecendo. Parece um sonho ruim…

Mãe:
Você tomou alguma coisa?

Mariana:
Tipo café?

Mãe:
Não…calmante?

Mariana:
Ah. Tinha um comprimido doPedro aqui. Não sei o nome, mas sei que ele toma quando ta tendo pití. Tomei.

Mãe:
Então destranca a porta da frente e vai pra sua cama. Eu já chego pra cuidar de você.

Mariana:
Tá. Não demora, mãe.

Mãe:
Beijo, meu amor…até já.

As duas desligam o telefone e Mariana faz o que a mãe mandou: destranca porta do apartamento e vai para o seu quarto tentar desligar dos últimos acontecimentos.

Continua...

Daren e Mariana XVII


Por Alice Salles - desafio caixa preta
(wanna some redemption, kids?)
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Gustavo está em sua casa comprada com dinheiro sujo de Dona Dina... Ele anda de lá para cá nos deixando tontos! Ele está tenso, preocupado com tudo e principalmente preocupado por ter ido longe demais nessa história, afinal ele conhece Daren toda a sua vida, eram amigos de infância e tinham até perdido a virgindade no mesmo prostíbulo! (hahahaha) . Ele pega o telefone e liga para Viviane. A tela se divide e aparece Vivi no cabelereiro com uma "fairy" segurando seu celular. .
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GUSTAVO
Vivi, ce tá ocupada?
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VIVI
Ai bem, claro que não né!
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GUSTAVO
É o seguinte.... .
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VIVI
Ai, pera! (Vivi vira para a menina que está fazendo as suas unhas dos pés e e grita) AI SUA LOUCA! OLHA O MEU PÉ! Fala amor... .
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GUSTAVO (com uma cara de puto)
Vivi, ouve! Não dá, eu to vendo que o Daren tá muito caído pela Max, eu acho que tô passsando dos limites. .
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VIVI
Mas e nossa grana, neném?
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GUSTAVO
Para de me chamar assim! Nossa grana já era, metade já foi paga e agora vou lá na Dina falar que não dá mais pra enrolar todo mundo... Eu quero ver o cara bem, você entende? .
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VIVI
Não! .
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GUSTAVO
Claro que não né!? Você nem sabe o que é ser amigo de alguém, bróoooother, entende? Não, não adianta eu falar, simplesmente PARE de dar em cima do Daren, e se não parar falo tudo pra ele! .
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VIVI
Você não vai fazer isso! Ele vai ficar possesso com você! .
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GUSTAVO
Ele vai entender e vai ficar tranquilo porque eu voltei atrás! Bom, é isso, volta pra tua manicure. Beijos! .
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VIVI
Beijos! . .
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Enquanto isso Daren está voltando de viagem, muito triste e acabado depois daquela conversinha com Mr. W., ele não fazia idéia do que tinha acontecido praquele homem querer tanto as empresas dele. Ele estava no avião olhando pela janela e teve uma idéia brilhante! (É brilhante porque ele faz cara de EURECA!) .
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No aeroporto Gustavo está esperando por ele com uma super cara de enterro. Está ventando muito e eles estão parados no estacionamento. Daren com seus óculos ray-ban e o cabelo dourado ao vento, segurando sua malinha e Gustavo de roupa social amassada com os olhos apertados por causa do sol. .
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DAREN
Cara, o Mr. W. quer comprar tudo, tudo!
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GUSTAVO
E o que você achou da proposta dele?
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DAREN
A gente tem escolha? É vender ou quebrar aos poucos e depois não conseguir vender mais nada!
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GUSTAVO
Cara, é você quem manda... .
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Daren olhou desconfiado para Gustavo e se perguntou se ele tinha algo atrás da manga. É como se a intuição feminina tivesse se transferido para Daren! Ele percebeu alguma sacanagem no amigo, um ar de algo escondido que Daren não entendia porque nunca tinha visto antes. .
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DAREN
Cara, que foi?
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GUSTAVO
Hein?
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DAREN
Cê tá estranho! .
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GUSTAVO
Tô nada, Daren, para com isso! .
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DAREN
Bom, se você não vai falar vou sentar aqui nessa merda desse chão sujo e esperar que você fale. Não saio daqui.
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GUSTAVO
Que?
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Daren se sentou no chão, do lado do carro, cruzou as pernas, apoiou os antebraços no chão e ficou olhando pro céu! .
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GUSTAVO
DAREN! Levanta daí!
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DAREN
Não tô te ouvindo, cara... .
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GUSTAVO
Caramba, sai daí já! Tô passando vergonha! .
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Nesse momento passam uma familia cheia de crianças que ficam rindo da cara dos dois, Daren dá um tchau para as crianças. .
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GUSTAVO
Tá bom! Levanta daí! .
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DAREN
Rá! ( estilo Al Pacino) Manda! .
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GUSTAVO
Você tem que enteder que eu sou asqueroso, tá? Meio malandro por natureza, você sabe como meu pai era cafajeste e tal...
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DAREN
Tá, tá, já sei, vá direto ao ponto!
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GUSTAVO
A Dina tá caída por uma pessoa... ela tá tão caída que caiu e não volta mais!
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DAREN (com cara e medo)
Por mim?
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GUSTAVO
Não! Pela Max...
. D
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aren para por um segundo... olha em volta, apóia as mãos na barriga e da uma gargalhada mais alta que o barulhos das turbinas dos aviões passando.... .
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GUSTAVO
E ela me pagou e ia me pagar mais pra manter você longe dela...
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Daren ainda chorando de rir olha pro amigo e apóia a mão no ombro dele. .
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GUSTAVO
Então a Vivi foi meio que... contratada por mim, entende? .
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DAREN
Ai... (rindo) e foi essa a sacanagem que você fez?
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GUSTAVO (confuso)
S-s-im...
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DAREN Fica tranquilo, (fica sério de repente) me leva pra casa vai! .
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Daren entra no carro e Gustavo fica meio atordoado até entrar no carro e ligar a máquina pra ir embora logo dali. . Dentro do carro: .
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DAREN
Me leva logo, cara, preciso falar com a Mariana... e acho que vou vender...
..
GUSTAVO
Porque? Não vai tentar?
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DAREN
Vou pegar essa grana e vou embora daqui. Preciso pensar a respeito...
.. A cena acaba com o carro pegando a estrada. .
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... CONTINUA ...