13 de abr. de 2007

Daren e Mariana XVI

por Gravata (Desafio Caixa Preta)





TEMPO PRESENTE
VELÓRIO


Pedro e Mariana estão abraçados, ambos chorando. Dina também chora, ao lado dos dois, mas com bem mais discrição. Há muitos outros presentes, mas ninguém de relevância para esta história.

Pedro
- Ele se foi... Ainda não acredito...

Mariana
- Nem eu... Que coisa mais louca tudo isso...


EM RETROSPECTO
RESTAURANTE


Daren (ligando para Mariana)
- Max, onde você tá?

Mariana
- Indo te buscar, ué...

Daren
- Olha, nem vá. Eu vim de táxi para o restaurante. Você teria que dar a maior volta... Já estou aqui. Vem direto, fica mais perto para você.

Mariana
- Não precisava, Edge... Poxa vida. Bom, tudo bem, então estou indo, né? Me aguarde... Beijo!

Daren
Beijo!

...

Daren
(tamborilando sobre a mesa)

...

Daren
(tamborilando com mais impaciência)

...

Daren
(fazendo a batida famosa do olodum, e mais acelerada)

...

Chega Vivianne.

Daren
- Vivi! Meu Deus do céu! O que faz aqui?

Vivianne
- Vim comer, ué. Normalmente fazemos isso num restaurante. E você, o que faz aqui? Veio conferir os resultados da Loteria Federal?

Daren
- Sem brincadeiras, Vivi. Até ontem você não tinha sarcasmo...

Vivianne
- Ontem foi ontem, Daren. Hoje é hoje. E, sem querer lhe dar um susto temporal, amanhã será amanhã. Eu sei que te quero, e você sabe que te quero, mas nada do que fiz até agora parece que me ajudou...

Daren
- Noto que sua percepção não é das piores...

Vivianne
- Pois eu não quero mais essa coisa de 'romance'. Eu pensei que você fosse disso, então me fiz de princesinha. Mas não sou também de romancinho. Ficou ridículo. Eu fingindo ser o que não sou, você me desaprovando por conta da personagem que criei e - pior ainda! - eu constatando que, sendo como sou, talvez fizesse mais sucesso...

Daren
- Em termos. Porque essa nova versão 'inteligente' me parece enrolada demais...

Vivianne
- Eu quero você. E sei que você gosta de uma putaria.

Daren
- Não é preciso ser um mestre da psicanálise para se chegar a essa conclusão, né?

Vivianne
- Eu também gosto. E quero te propor uma coisa que talvez não seja inédita em sua vida, mas seguramente desta vez será especial...

Daren
- Lá vem...

Vivianne
- Um ménage. Uma fantástica foda a três.

Daren
- Não que eu esteja interessado, ou desinteressado, mas apenas a título de curiosidade: o terceiro elemento seria uma mulher um rapagote?

Vivianne
- Uma mulher. Karen, amiga minha. Não exatamente amiga-amiga, mas sim uma amiga que... Ah, acho que você me entende.

Daren
- Entendo perfeitamente, entendo tudo tudo... Olha, tem só um problema em tudo isso. Não quero desapontá-la, mas...

Viviane então se aproxima, meio que força um abraço, se jogando no colo de Daren

Vivianne
- Eu sei que você não vai me desapontar!

Mariana chega bem nessa hora e avista, de longe, Vivianne no colo de Daren. Sua primeira vontade é a de chegar dando voadora e tabefes generalizados, mas seu amor próprio faz com que o 'momento chuck norris' seja evitado.

Ela simplesmente dá meia-volta; Daren nem a viu. Ela liga para ele.

Daren
- Porra! Meu celular... Vivi, por favor, saia do meu colo! E fique quieta pelo menos agora, ok?

Vivianne volta para a outra cadeira.

Daren
- Alô?

Mariana
- Oi, Edge! Tudo bem? Já estou chegando... Você tá sentado onde?

Daren
- Tô aqui no final do restaurante... Você vai me ver assim que entrar um pouco... Estou sozinho (ele fala isso e tapa a boca de Vivianne, fazendo cara séria).

Mariana
- Ah, ta... Era isso que queria saber, mesmo...

Daren
- Nossa! Você nunca foi tão minuciosa assim para descobrir um lugar em restaurante, Max!

Mariana
- Lugar nada. Queria saber se você falaria uma mentira ou se falaria a verdade. Porque, se falasse a verdade, eu perderia tempo ouvindo alguma desculpa. Como mentiu, eu nem quero saber o que a "Desespero Praiano" estava fazendo no seu colo.

Daren
- Max! Por favor, eu posso...

Mariana (interrompendo)
- Não, não pode. Um beijo e boa viagem...

Daren desliga e fica puto da vida. Tenta brigar com Vivianne, mas sabe que também não é culpa dela. Apenas pede para ela ir embora, pois ele já passou por muitas catástrofes num único mês.

Vivianne sai do restaurante e liga para Gustavo. Gustavo liga para Dina. Dina, sorridente e feliz como nunca, liva para Mariana.

Dina
- Mari?

Mariana
- Oi... Dina?!?

Dina
- Eu! Tudo bem? Tava pensando em fazer um jantarzinho em casa... VocÊ convidaria o Edge...

Mariana
- Que Edge? O único que conheço, e não pessoalmente, é aquele que toca no U2. Ah! Tem um que era um velho conhecido, mas que está morto...

Dina
- Morto? Como assim?

Mariana
- Fisiologicamente, ele vive e passa bem. Muito bem, aliás. Mas, para mim, ele está morto.

Dina
- Mas o que ele fez? Tem como você explicar?

Mariana
- Explico, sim, claro. Mas pessoalmente, ok?

Dina
- Venha para minha casa agora mesmo!


CASA DA DINA
Toca a campainha e ela, Dina, vai à porta. Em geral, a copeira é quem abre. Mas, desta vez, trata-se de uma inequívoca exceção. Dina está com uma camisola de seda, mais ou menos transparente. Depois de poucas e boas que aprontou nesta vida desregrada, é claro que seu corpo não chega a ser de uma perfeição hedonista. Mas, para sua idade, está de ótimo tamanho.

Ela abre a porta, Mariana não esconde o susto por ver Dina daquele jeito, naqueles trajes etc.

Mariana
- Nossa, Dina! Que roupa sensual é essa? Está esperando algum 'amigo'?

Dina
- Nada, Mari... É minha roupa de dormir. Vai dizer que nunca viu uma camisolinha assim?

Mariana
- Ah, Claro que sim... Bobagem minha.

Mariana então conta toda a história, conta do restaurante etc. Dina, com fina inteligência, não se coloca exatamente contra Daren, mas sim faz o inverso, tentando defendê-lo. Isso faz com que Mariana ataque Daren ainda mais e, ao mesmo tempo, jamais associe Dina à idéia de separá-los.

Ao longo do papo, doses e mais doses de champagne. Papo. Champagne. Papo. Champagne. Daren filho da puta. Champagne. Não é bem assim. Champagne. Daren não me merece. Champagne. Realmente, você é uma mulher muito linda. Champagne. Risadas, risadas, risadas. Champagne. As duas se aproximam, mais e mais risadas. Champagne.

Toca o telefone. Nada de champagne.

Dina (beeeem contrariada com a interrupção)
- Alô...

Pedro
- PELAMORDEDEUSPORFAVORVEMPRACÁ! CHAMA A MARIANA! ELA NÃO ATENDE O CELULAR VEM PRA CÁÁÁÁÁÁ!!!

Dina (muito puta da vida)
- Ela está aqui... Por favor, Pedro, o que você quer?

Pedro
- O Ademir está morto!!!!!

Dina
- Onde você está?

Pedro (chorando e gritando)
- Em casa... Veio todo o pessoal aqui... Polícia, todo mundo. Estou em pânico!

Dina conta tudo para Mariana, e ambas automaticamente ficam sóbrias. A boa e velha sobriedade instantânea que esse tipo de choque promove. Vão então para a casa de Pedro.


CASA DO PEDRO
Lá, estão todos os já famosos: delegado, peritos, agentes policiais etc. E Pedro, chorando inconsolavelmente. Aliás, sem consolo algum até então.

Mariana
- Pedro! Me abraça! Vem cá! Mas o que houve?

Delegado (sem deixar Pedro responder)
- O negão era da pesada, moça. Não tínhamos pensado nisso, mas parece óbvio que um cara daquele não usaria uma .32. Sua arma era uma .55, dessas que você dá um tiro no Brás e o tranco te leva pra Mooca.

Mariana
- Isso é hora de fazer piada? Ele está chorando aqui...

Delegado
- Não é piada. Vocês o trouxeram para casa, e aparentemente não havia nada de errado. Mas além de usar uma arma poderosa, ele usou uma munição... como posso explicar... enfim, uma munição "envenenada" (ele faz as aspas com os dedos)

Dina
- Envenenada? Que raio de bala é essa?

Delegado (corrigindo)
- Munição, senhorita

Mariana
- Que seja, porra! Que raio de "munição" (agora ela que faz as aspas com os dedinhos) é essa?

Delegado
- Vou explicar de uma forma simples: o cartucho, quando disparado, abre uma cápsula que, ao atingir o corpo, faz com que algumas bolinhas metálicas contendo 'veneno' entre na circulação sangüínea...

Mariana (interrompendo)
- Mas que veneno? Como assim?

Delegado
- È coisa sofisticada, dona. O pessoal da perícia só me explicou até aí. Falou que isso é arma proibida até por Convenção de Genebra, tal e coisa. Mas foi isso. Todo mundo achou que fosse pólvora, mas tinha algo mais. E ele morreu por isso.


DE VOLTA AO TEMPO PRESENTE
ENTERRO DE ADEMIR


Mariana
- Pedro, por favor... Tente se acalmar...

Pedro (chorando demais)
- Estou muito arrependido! Muito! Eu queria me separar, queria sair da relação, não tava dando certo... E aí ele morre! Não sei como lidar com essa culpa toda

Dina (interrompendo discretamente, quase sem olhar para o lado)
- Acalme-se, Pedro... Você não tem culpa de nada... Vamos todos para minha casa após o enterro, ok?

Mariana e Pedro assentem com a cabeça. Dina tenta se animar com o fato de novamente ter Mariana em sua casa, mas não consegue esconder a tristeza diante da morte de Ademir.


TEMPO PRESENTE
FLORIDA
Daren chega ao encontro do tal "executivo" com quem vai se reunir. Há muito dinheiro em jogo, muita grana mesmo, e o futuro de seus negócios no Brasil depende dessa contratação.

Ele se senta no bar do hotel e aguarda. Está totalmente arrependido, puto da vida, nervoso com o tremendo azar que dera no restaurante. Mariana o flagrou com Vivianne e agora talvez tudo estivesse perdido. De novo.

Também está triste pela morte de Ademir. Dina ligou havia pouco. Tanta coisa ruim acontecendo. Tanta coisa estranha. Seu ceticismo o fazia desprezar a idéia de "maré de azar", mas aparentemente tudo aquilo tinha uma única linha.

Tudo era muito estranho.

De repente, chega um homem até a mesa de Daren.Terno preto, sapato preto, camisa impecavelmente branca. Gravata roxa. Óculos Ray-Ban e... UMA BOINA!

Daren (em inglês)
- Você deve ser...

Mr. W (interrompendo, e em português)
- Walter Connenberg. E, por sua cara de susto, suponho que não esperava um negro. Nem alguém que falasse português...

Daren (em seu melhor linguajar 'homem de negócios)
- De fato, estou surpreso. Positivamente surpreso.

Mr. W
- Eu pretendo comprar todas as suas empresas, Daren. Todas. Que são, deixa me lembrar, três companhias.

Daren (espantado)
- Comprar? Mas pensei que fosse apenas uma parceria... Não quero vender

Mr. W
- A vontade, bem sabemos, não é aquilo que regula o mundo dos negócios. O que o regula é a necessidade. E muitas vezes não conseguimos saber o que exatamente nos é necessário. Ignoramos nossas necessidades...

Daren (interrompendo)
- Olha, Walter... Eu acho que esta conversa perdeu um pouco a razão de ser.

Mr W (sorrindo)
- Não. Ela vai começar a ter uma razão agora mesmo: suas três companhias estão falidas. Eu controlo todos os 250 fornecedores. E eles vão parar de fornecer amanhã, mesmo. Controlo - veja você! - todos os 358 compradores. Sim, poderia controlar apenas 357 ou 350. Mas, enfim, não custa ter cautela.

Daren
- Então, se não vender, você levará minhas empresas à falência?

Mr W
- Não, não! De forma alguma! Os fornecedores e compradores é que farão isso. Eu, provavelmente, estarei dirigindo um Mustang, ou jogando golfe, ou vendo alguma temporada de "The West Wing". Aliás, já viu que série genial?

Daren
- Pára! O que é isso? Isso é extorsão.

Mr W
- Nunca! É uma negociação de compra e venda. Você me vende suas companhias, pelo preço que eu estipular, e fim de conversa. Ou então pode dar seus chiliques à vontade e falir. A opção é sua.

Neste instante, toca o telefone de Mr. W.

Mr W
- Alô... Ah, sim. Claro. Muito bem feito. Fez como combinamos, mesmo... Tá certo, tá certo...

...

Mr W
Sim, é bom jogar esse saco de lixo bem longe.

Ele então desliga e se volta para Daren, que está atônito.

Mr W
- Não farei uma oferta desprezível. Vá para meu escritório (diz isso e entrega um cartão) e negocie diretamente com o Sr. Takahishi. Nossa conversa pára por aqui. Ah!!! Ia me esquecendo... Sua conta está paga. No restaurante e no hotel.

Daren permanece em silêncio. Mr. W, enquanto sai do restaurante, novamente pega o telefone para concluir a outra ligação.

Mr. W
- Eu não podia falar naquela hora. Mas fico feliz que tudo tenha dado certo. O plano não é dos mais complicados. E você agiu muito bem. Gostei.

Pedro
- Não tem como ninguém achar a seringa. Fiz parecer aquilo lá, mesmo, que era um cartucho envenenado. Todo mundo acreditou.

Mr. W
- Você está falando de onde?

Pedro
- Do banheiro da Dina. O banheiro é longe da sala, e ela está lá com a Mariana.

Mr. W
- Então volte a chorar. Não estrague tudo justo agora.

CONTINUA...

9 comentários:

Rafaela Pedro disse...

Gravata! Gravata! Gravata!
Amei!!!
(não sei pq, eu escuto a voz da Dina como a Edna Moda, dos Incríveis... na versão dublada, pq eu tenho filho e ele não quer mais ver nada em inglês!)

Anônimo disse...

:D

Edna Moda! Boa!

Felipe "Tito" Belão disse...

frases que eu sonho em ouvir de uma mulher ainda hoje:

Vivianne
- Eu quero você. E sei que você gosta de uma putaria.

Vivianne
- Um ménage. Uma fantástica foda a três.

opaaaa

Alice Salles disse...

"frases que eu sonho em ouvir de uma mulher ainda hoje:

Vivianne
- Eu quero você. E sei que você gosta de uma putaria.

Vivianne
- Um ménage. Uma fantástica foda a três."

EITA!!! hahaha

Acho que essa história tá se enroscando! Quem é próximo a desenroscar e enroscar novamente!?

Besos crianças

p.s.: Sr. Gravata é muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito criativo!

C. Garofani disse...

geeente acho que vou passar a faixa de "Mais insano dos insones" pro Gravata.

Pelamor!
Hahhahaahhhahaah cada capitulo me deixa mais boquiaberta, acho que criei um monstro qdo pus aquela arma na mao do Ademir...

Rafaela Pedro disse...

Sem querer pressionar... Mas este clube fecha no final de semana?
hehehehe

Anônimo disse...

Meudeusdocéu!
Gravata...nem sei o que dizer.
Você nos devolveu o Mr. W e nos criou um problema. hahaha O Pedro sendo um cara do mau, acaba com tudo o que eu acreditava nesse mundo de meu deus. hahahaha!

Adorei.

Quem é o próximo?

Flavia Melissa disse...

gente, gente!! que coisa doida, doida, doida!!!

que gravata não é normal, isso eu já sabia, mas que ia pegar o mr. w e colocar frente a frente com daren, sendo comparsa do pedro...

por isso que eu digo que amo esse cérebro, apesar dos pesares!!!

Anônimo disse...

Flavia, que porra é essa de "apesar dos pesares"? :D

Quais "pesares"? rsssss