26 de abr. de 2007

O copo, o relógio e o telefone III


por Felipe Belão Iubel - desafio Caixa Preta II



Procurei o carregador por algum tempo. Isso só me fez perder mais 10 minutos. 11:40. Larguei o aparelho em cima do sofá e corri para o carro. Quando eu parei de correr e sentei em frente ao volante, lembrei com bastante ênfase na bebedeira do dia anterior. Tsunami de vômito no banco do passageiro. Passei a manga da blusa no bigode enquanto gritava bem alto para todos os vizinhos escutarem.

“Meleeeeeeeeeeeeeeeeca!”

Abri a porta do passageiro e comecei a jogar os pedacinhos da comida do dia anterior para fora. Perdi mais uns 15 minutos. Resmunguei pela semana inteira e comecei a pensar no celular desligado da Dana. Eu já havia bebido antes, mas nunca tinha vomitado tão fedido quanto naquele dia. Cheguei ao ponto de expelir a bile, mas, nessa parte, eu já estava fora do carro. “Dana.” O nome dela vinha aos meus pensamentos e eu só vomitava mais. “Celular desligado.” Eu precisava de um remédio. “Muito estranho.” Engov. Epocler. Sal de fruta. Aspirina. Tilenol. Neosaldina. “Preciso falar com ela.” Um gatorade pra hidratar. Uma água tônica de quinino pra acariciar o fígado. E a ressaca continuava.

Depois da farmácia, parei no boteco. Precisava de energia para passar o resto do dia. Tinha muita coisa importante para fazer e precisava estar bem. E isso significava: um pouco bêbado e sem nenhuma dor de cabeça. Pedi logo um rabo-de-galo e um roll'mops (que, aliás, ninguém tem certeza de como escreve). Café da manhã dos campeões mesmo! Mas eu era medíocre, patético, fraco e consciente da minha situação ridícula. Cheguei ao telefone público sem ressaca e liguei outra vez. Nada. Quero dizer só a voz irritante da mulherzinha mesquinha da operadora dizendo que o celular estava desligado. Aliás, a música que vem junto com a voz sempre me lembra de uma da Cher. Acho que por isso que eu odiava tanto a operadora.

Cheguei ao estacionamento do trabalho fiz a volta e fui até a casa dela. Não tinha como resistir. Ainda mais no meu estado. Desespero era eufemismo para aquele momento. Tentei pensar em quando minha vida tinha se tornado tão patética. A única resposta era o nome dela. Foi aí que eu lembrei do Jean do bar. Senti inveja da vida dele. Falando errado. Atendendo aos clientes daquele jeito de quem faz de conta que sabe das coisas. Só faz de conta mesmo entre uma frase matadora do português e outra:

“Subir pra cima.”
“Prefiro mil vezes.”
“Anexa junto.”

Porra, inveja daquele cara era motivo pra suicídio mesmo. A porta só estava encostada. Entrei devagar e escutei um barulho no andar de cima. Subi as escadas e senti tontura. Parei na metade e contei os degraus até chegar à entrada do quarto. A porta entre- aberta. Ela na cama de bruços. Um homem velho e pelancudo deitado em cima dela.

“Putaqueopariu.”

Sem querer gritei e desci a escada correndo. Claro que eu caí.

Continua....

5 comentários:

Anônimo disse...

To garrando nojo desse Jan-Luc de Trés-de-última!

O que ele esperava...se a Dana da mole pra um cara que vomita no carro, tem bigode fedido e toma rabo-de-galo com rolmops? O mínimo era o outro ser um velho pelancudo!

Gravata disse...

Alfinetadas, alfinetadas...

Mas sou um cavalheiro. Vou responder apenas por email para poupar vexame público.

(obviamente, email para o grupo todo, porque a festa é sua, a festa é nossa, é de quem vier...)

:D

Fastolf disse...

HAHAHAHAHAHAHAH, esse gravata...

Estou vendo traços de Charles B. no amigo Jan-Luc.
hahahahahahahha
Boa Titão!

Alice Salles disse...

Bukowski rules
E gramática sucks hahahah
Mas Gravata, te adoro!

Felipe "Tito" Belão disse...

só de leve, gravatinha...