8 de mai. de 2007

O Copo, o Relógio e o Telefone IX




Por Fastolf Brambel - Desafio Caixa Preta II

Parei e ouvi. Encostada na porta sentia minha respiração tremer suas estruturas de cima a baixo.
Jan, Jan... Difícil acreditar como alguém consegue estar tão bem representado em meus sentimentos, exatamente em cima da linha que divide o amor e o ódio. Dois sentimentos tão intensos quanto semelhantes. Tão gostosos quanto desprezíveis. Ambos, os dois, ao mesmo tempo.
Fiquei ali por mais alguns segundos. Acho que ele me definiu bem. Vicious as wild and dangerous. Um animal selvagem. Selvagem de livre, de solta, idependente de tudo. De tudo menos de Jan. É, e perigosa ao mesmo tempo. Perigosa da puta que me sinto toda vez que entro em casa, toda vez que sinto, da porta, o cheiro de Mauricio que insiste em infestar o meu lençol. E agora?
Abri a porta. O desgraçado continuou sem nem mudar o passo. Iria embora sem ao menos tentar?

-Jan-Luc Dutrés! - disse brava e decidida.

Ele lentamente olhou para trás com aquela cara de bobo incrível e aquela olheira de homem falido.

- Entra, seu imbecil.
- Tem certeza?
- Não pergunte duas vezes...

Ele entrou.

- Quer água? - perguntei.
Estava com raiva. Durante tempos some da minha vida e aparece, assim, transformando todos os meus sonhos em um grande pesadelo. Querendo desesperadamente dizer que me ama mas provando a cada segundo que é incapaz de amar até a si próprio.

- Não, obrigado... Não quero nada que tenha menos de 40% de álcool.

Não disse? Idiota! Batendo copos e garrafas preparei o drink enquando ele discursava sobre sua inútil e miserável vida e jogava mais e mais indiretas sobre o meu tão bem sucedido emprego. Tentativas de explicações sobre fatos que eu nem conhecia.

- Tó.
- Que isso?
- Bebe e não me enche. - sim, eu precisava ser hostil.

Depois de uma leve cheirada veio o gole guloso. Fui má, bem má. Dei a ele o fim que ele queria. Vodka barata, uisque nacional, pinga de segunda e absinto paraguaio. No mesmo copo coloquei todos os restos de garrafas encostadas a anos, de outra vida, de outra Dana. O coitado já estava naquela fase do ciclo vital masculino quando qualquer golinho é um porre. Desesperos de um fígado maltratado. E eu sabia bem o que estava por vir... Aimeutapete!

- Dana, fiz meleca.
- Uuuuuiiii Jan, você é um porco!!!!!
- Eu tô mal, Dana... preciso de você.

Era a hora das declarações de um bêbado acabado.
- Nãonãonãonão... eu te entendo, te entendo... entendo. Não fale nada. Euseieuseieusei. - disse ele

Sim, claro... fazia todo sentido!

- Mas se eu fosse você abaixaria todas as minhas armas... todas! Me perguntaria por que demorei tanto. Poooor quê. Mas deus sabe que eu não sou você, e se eu fosse não seria, assim, tão cruel... Porque esperar por seu amor, Dana, não é assim tão fácil.
- Cala essa boca, Jan-Luc.
- Eu nunca soube te dizer porque meus dedos ficam inquietos quando te vejo. Nunca soube contar porque sorrio para tudo quando você está perto. Porque olho para baixo quando você chora, porque seguro o folego quanto te abraço, Dana. Eu sou um homem acabado e você é o...
- Jaaaaaaaan. Fica quieto, por favor. - gritei alto, bem alto. Muuiiito alto. Não queria ouvir nem mais uma palavra.

Puxando pelo braço o levei até o quarto. Desabotoei sua camisa enquanto ele, com uma absurda cara de assutado, permaneceu imóvel. Botão por botão, me esforçando ao máximo para não cruzarmos olhares.

- Tira essa calça, Jan.
- Dana, eu...
- Tira, Jan, que saco. - é, ele estava assustado.

Tirou as calças afobado, apressado, como se fossemos chegar à algum lugar. Tirou as meias e eu interrompi antes que ele pensasse em encostar naquela cueca.

- Passarinhos na gaiola, fazendo o favor.

Puxei a coberta até seu pescoço, afofei os cantos para que o ar gelado não atrapalhasse uma quente noite de bons sonhos. Queria, realmente, que o sonho fosse isso. Que acordássemos lindos e contentes em uma cama grande em um quarto branco. Beijei sua testa e sussurei algo em seu ouvido seguido de um boa noite carinhoso.

- Vai acordar novo, Jan-Luc. Descanse.

***

Acordei com o sol que batia em meu rosto. Mas acordei bem, disposto. Quase feliz. Lógico que com um pouco de peso na consciência por tudo que fiz, tudo que fui e quase o que sou. Mas eu não sou assim... Ah não, não posso ser.
Enquanto me esforçava para segurar minha bexiga corri para o banheiro. Só reparei na volta que Dana dormia no sofá.
Com cuidado preparei nosso café da manhã. Suco de laranja espremido a mão para não fazer barulho. Sanduiches de queijo e presunto. Sim eu sou metido e mexi na geladera. Precisava de algum tipo de iniciativa, não?!

- Dana? Daaana? - tentei acordá-la com jeito, baixinho... um leve toque em seus obros e uma sacudidinha carinhosa. - Eu fiz café! Quer dizer, café da manhã, porque o café mesmo eu não achei.

Ela olhou meio confusa com apenas um de seus absolutamente incriveis olhos azuis aberto enquanto franzia da testa ao nariz.

- Ai, Jan, não precisava...
- Mas eu quis!

Voltei para pegar a refeição e não consegui evitar que ela caísse de novo no sono. Talvez o mundo detrás daqueles olhos fosse muito mais interessante... O que certamente é. Eu espero...
Cheguei bem pertinho, sem a bandeja, e coloquei na cabeça que não levantaria daquele sofá sem minha devida atenção, sem meu pedido de perdão, sem a recompensa por não mais querer ser um completo idiota. Talvéz só meio idiota.

"Arrisco um beijo?", pensei. Arrisco, é só bom dia!... Ai, não... sim... para e vai e rápido e devagar, ação, reação... Vai Jan, vai!
Dei um leve beijo demorado e carinhoso em sua bochecha rosada. Dana abriu os olhos, me olhou e sorriu.

- Bom dia.
- Desculpa, Jan. Tô cansada, caí no sono. - tentou falar enquanto se espreguiçava, tentou se espreguiçar enquanto falava - Bom dia.

Para um ser tão preocupado em ação e reação acabei saindo de mim. Perdi a noção, esqueci do meu mundo e do dela, assim como ao dormir esqueci, de propósito, do mundo real. A beijei de novo, só que agora mais devagar. De olhos fechados, encostei meus labios em seu rosto enquanto lentamente o acariciava. Ela nem reagiu. Pensei em falar alguma coisa mas achei que seria melhor ocupar a minha boca com a dela, ou a tentativa de... Seria no mínimo mais prazeroso.

Assim que me desloquei da bochecha para a boca ela segurou com firmeza no que me resta de cabelo. Me puxou para perto, me chamou para si. Eu já não era mais eu. Dana não era mais Dana. Eramos uma loucura qualquer.
Da boca para o pescoço, de meus cabelos para minhas costas peladas. Em meio a trocas de toques e carinhos minhas roupas voltaram a habitar o chão enquanto as dela prefiriam o abajur apagado. Ignoravamos os passarinhos, as buzinas, os cachorros e o celular que tocava. Fui, aos poucos, descobrindo a Dana que tanto sonhei... Desci beijando os ombros leves, os seios fartos, o umbigo curvo... Senti suas mãos arranharem as minhas costas ao sentir cada vez mais seu cheiro de mulher, seu gosto de mulher, assim, em um ato de amor. Paixão. Amor. Loucura.
Só me satisfiz depois de sentir Dana por inteiro. Depois de vê-la, imóvel, esparramada no sofá.

- Dana, eu...
- Shhhhhhhhhh. Vem aqui.

Encostei minha cabeça em seu peito. Me senti muito mais e muito menos Jan-Luc. Um barulho estranho nos desviou a atenção.

- Aideus. a porta!!!!!!
- Que porta, Dana???
- Ele tem a chave.
- Ele quem? Que chave?
- O Maurício...


Continua...

13 comentários:

Anônimo disse...

Mulher corajosa essa. Sabe deus o que ela pode pegar.
aliás...se o gravata escrever vocês vão ver só...Pobre Dana.

Flavia Melissa disse...

pobre dana ela já é, vendo seu umbiguinho ser beijado por um homem com meio bigode!!!

Alice Salles disse...

DEUS DO CÉU!
DEU UMA "QUENTURA" AQUI!
hahahah
ai gente! Eu to imaginando o Jan-Luc bunitinho!

Rodrigo Gameiro disse...

Putz, a revelação do triângulo Maurício/Dana/Jan-Luc !!!!

E agora????????

Fastolf disse...

Agora é contigo, rapá!!!!
hahahahahahaha

Alice Salles disse...

O Maurício é peludo e fedido!

C. Garofani disse...

o mauricio tem espinhas na bunda grande e gorda cheia de estrias

o jan luc CONTINUA com meio bigode, da pra alguem esclarecer isso pelamordedeus?

a dana no MÍNIMO vai pegar uma gonorréia

vixe...

Fastolf disse...

Ué... pelo o que eu entendi o meio bigode foi um sonho.

Anônimo disse...

Eu acho que o meio bigode foi a parte do sonho que se realizou. Acho que alguém tem que terminar o trabalho.

Sobre o Maurício, além da bunda peluda com espinha e estrias, ele tem aquela cartucheira mole, sabe? Que balança pra fora da calça? Gatzinho...hehehe.

Alice Salles disse...

AIIIIIIIIIII!
Q NOOOOOOOOOOOOOJO!

Felipe "Tito" Belão disse...

sou fã do maurício...
falta sangue nessa história...

C. Garofani disse...

sabe o que é engraçado?
tem um maurício exatamente assim que trabalha comigo. se a bunda dele é estrienta e espinhenta e peluda eu não sei, mas muito provavelmente, e é asqueroso igual. jabba the hutt.

ou seja, o pesadelo pra mim é real.

Anônimo disse...

Tadinha da Carol!!!!!
Só por causa dela eu imagino o Mauricio o PRÓPRIO Jabba. hahahah
Ainda mais babando no cabelo da Dana.
hahahha