15 de jun. de 2007

Epitáfio Piegas


por Felipe Belão Iubel
conto n.2



Onde quer que esteja

Durante meus dois últimos dias nessa sua terra que é de ninguém, pensei em como dizer toda a verdade para você. Imaginei que uma carta diria tudo. Porém, agora, onde quer que eu esteja, sei que não é assim que os sentimentos funcionam.
Naquele dia em que você terminou tantos anos em apenas uma ligação, eu chorei. Chorei e dei repetidos socos na parede até minha mão ficar roxa e do tamanho da minha insensatez. Chorei mais e pensei: “Hoje ela partiu meu coração.”
Bobagem. O tempo cura. O relógio não parou. Tac Tic, ele me dizia. Tac. Tic. E outra mulher chegou. Fui feliz. Muito mais do que fui feliz ao seu lado. Hoje, onde quer que eu esteja, sei bem disso. Eu passei a escutar mais. Passei a ter mais paciência. Aprendi que não precisa durar para sempre. E acabou.
Tac. Tic. Em seus ponteiros o tempo me trouxe uma paixão que era só minha. Paixão de adulto, gente grande. Recebi mais carinho do que em todos os anos ao seu lado. Eu sabia disso na hora. E, hoje, onde quer que eu esteja, sei que não é tão simples assim. Afinal, carinho não é quantitativo, diria um poeta chegado na pesquisa científica.
Tac Tic, o tempo me dizia. E eu respondia: Mas por que ainda penso nela com tanto amor? Loucura, alguns me diziam. Bobagem, outros. Obsessão, os que restavam. Porém, o tempo sempre me disse: Amor. Só que hoje, onde quer que eu esteja, sei que era daquele tipo de amor que não é pra ser. Foi feito para sentir.
E o mais engraçado de tudo é que só depois que pensei em me despedir dessa sua terra que é de ninguém é que percebi: para aonde quer que eu vá, continuarei amando. Para aonde quer que eu vá, não restará mais nada da loucura, bobagem ou obsessão. Amor, só amor. E agora, enquanto digo adeus, vejo que você nunca partiu meu coração. Eu mesmo acabei de destruí-lo.



Daquele que não recebeu seu amor e implora pela negação do seu ódio.
Daquele que aprendeu a sentir o tudo e o nada com você.
Daquele que, onde quer que esteja, ainda ama e pó.

5 comentários:

Mercedes disse...

Eu vou ser feliz quando "aquele" parar de negar o amor desta maneira.
Tudo o que você escreve que se refere a amor, você justifica com "PIEGAS", como se não estivesse dentro de você. E é mentira. Piegas, ou comum, ou bobo, ou quase ridículo, é acreditar que tudo o que é bonito é piegas.

Em que mundo você quer viver? Num mundo frio e irônico que ri de tudo?
Duvido! Duvido no fundo de tudo o que eu sei. Piegas é o chato que inventou essa palavra, porque não queria chorar no cinema.

Bronca pública, Felipe Belão Iubel! A próxima vez que você escrever algo "piegas" eu não vou ler até você remover essa palavra do seu cérebro!!!!

E tá lindo!

Felipe "Tito" Belão disse...

é que meu desejo era escrever do ponto de vista de um sujeito piegas tipo naquelas canções rasga coração dos anos 60, saca?
nada de negação do amor ou sentimento...

Alice Salles disse...

we owe what we are to the fear of love....

Frusciante & Eu.... hahahaha

Lindo demás e eu já disse tudo com a minha frase piegas aqui de cima.

Mercedes disse...

Piegas é Zezé de Camargo! Mas ele não acha! Entao não é! hahahha

Felipe "Tito" Belão disse...

ele não acha nada, certo?
hahahahaha