7 de mai. de 2007

O copo, o relógio e o telefone VIII



Por Flavia Melissa - Desafio Caixa Preta II

Os dias se passavam mas nada daquilo passava, tudo o que invadia minha lembrança era a lembrança dela, Dana, Dana, como eu queria que ela nunca tivesse atendido ao celular na primeira vez em que liguei, pelo menos o meu mundo teria aquele mesmo significado que teve um dia, ou melhor, nenhum significado. Sim, porque naquela época eu não via sentido nenhum em coisa nenhuma, e era feliz sem precisar ficar me perguntando o que é que afinal de contas andava errado.

E de repente ela havia aparecido na minha frente, linda e louca, confusa como uma criança que tenta entender como é que, afinal de contas, Papai Noel nunca havia existido. Foi assim que a conheci, foi assim que ela entrou pela primeira vez na minha vida, linda e louca, confusa e louca, esperneando diante do táxi e da chuva que caía no chão.

- Por favor... Acabei de ser assaltada, levaram tudo e eu to aqui nesse fim de mundo, será que você pode me dar uma carona no seu táxi?

E como não deixar que ela entrasse, e como não permitir que ela se sentasse ali ao meu lado, e como não perceber o calor que emanava de sua pele no momento em que nossas pernas se encostaram, por um milésimo de segundo? Meu celular tocava insistentemente, ele tocava e gritava e eu não percebia, até que ela me pediu, com aquela voz tremida de quem havia perdido uma parte de sua vida, “me empresta seu celular?”, é claro que eu empresto...

Ela era linda e tinha aquele ar assustado, havia chorado e estava descabelada e molhada, toma, pega aqui o meu casaco, se seca... Tem uma meleca aqui no canto do seu rosto, olha, se limpa... Fica tranqüila que agora você está a salvo, olha, se seca...

Ela usou meu celular, cancelou cartões de crédito, ligou para a mãe enquanto a chuva caía forte e fazia com que nos déssemos conta de que Deus, o Universo, a Força Criadora ou o que quer que fosse não dava a mínima para ladrões e bolsas roubadas, apenas ligava para aquele aguaceiro que caía, apenas ligava para dois estranhos que se conheciam no interior de um táxi naquela avenida parada, em pleno horário de rush.

E eu fiquei sabendo da sua vida, eu fiquei sabendo de todas aquelas coisas que normalmente a gente só sabe depois de muito tempo, e quando vimos que o transito não andava de jeito nenhum nós descemos do táxi ali naquela esquina e entramos naquele café e começamos a beber todo o conhaque que eles tinham pra preparar aqueles cafés especiais... E quando me dei conta, ela estava nua, montada em cima de mim, olhos fechados e eu pedindo que ela abrisse os olhos, para me ver refletido naquele reflexo... Holografia é reflexo do reflexo... Mais um conhaque por favor.

Às vezes eu ando na rua e fico me perguntando se ela realmente existe. Se existe como uma pessoa de carne e osso, ou se é como vi na televisão outro dia desses, dessas pessoas que a gente inventa e acha que existe, que acha que é de verdade, mas que na verdade não existe a não ser dentro da nossa cabeça...


Eu sou uma holografia desde Dana, só existo a partir da imagem minha que ela reflete, só existo em função de Dana, que não sabe como eu era feliz antes de tudo isso começar, antes que todo o brilho que existe nos meus olhos fossem o reflexo do brilho dela que existe em mim, esse reflexo de luz do sol que bate no metal da janela do prédio vizinho, reflete na mesa da sala e cega meus olhos, enquanto eu penso no que fazer para que ela me escute... Apenas me escute... Não são as palavras que eu quero ouvir de você, não é o que eu quero, não diga... E se você soubesse como seria fácil me mostrar o que você sente... Você não precisaria dizer que me ama, pois eu já saberia...

Dana... Dana...

14 comentários:

Anônimo disse...

Putz! Qual é a música???

hahahah!
Esse casal vive com meleca grudada no rosto. Mas pelo menos dessa vez, a meleca foi a única nojera. Parece que ta subindo o nível!

;)

Rodrigo Gameiro disse...

Esse cara é um eterno apaixonado. Impressionante como ele não se revolta!!! Compreensivo até demais!

Alice Salles disse...

Gente!
ESSE HOMEM EXISTE!?
quero pra mim!
Eu já disse que EU sou a Dana!

Anônimo disse...

Eu não acredito que alguém em sã consciência queira mesmo um cara que cheira, bebe, acorda no puteiro, vomita no carro e tem um bigode nojento!
Pelo amor de deus, Lady Laice! Menos!

Anônimo disse...

ah! E eu já ia esquecendo a pérola:
"apalpando o volume entumecido da minha calça..."

Pelo amor da vaca jersey!

Flavia Melissa disse...

o que os jurados querem saber é...
qual é a música?

tbm to sussa de um "bom partido" desse.
por nossa senhora do haggen dazz de macadamia!!!

Rodrigo Gameiro disse...

Ei!!

Bigode é legal!!!

Felipe "Tito" Belão disse...

depois desse comentário já sabemos o que esperar do rodrigo...
hahahahaha

C. Garofani disse...

ele é mesmo um bêbado bukowski, apaixonado e bundão.... huahuahauuha

Alice Salles disse...

Meeeeeeer
eu quero o apaixonado Bukowski e bundão! hahahaha

Fastolf disse...

Isso aí, prefiro Jan-Jan apaixonado!
E ainda não descobri la music...
Farei o que posso para conseguir escrever hoje ou amanhã.
beijooos

C. Garofani disse...

Lady Laice.. vc está ILUDIDA!!!
O Jan Luc é um porco, ele só fica romantico quando ta bebado!

Sóbrio ele é um nojento... cuidado com homens assim! Hahahaah

Rodrigo Gameiro disse...

eu não sei qual é a música!!!!


Queria saber!!!

Rafaela Pedro disse...

Palavra dos leitores (ou da leitora intrometida!)
Muito legal, muito bonito, mas dá pra acontecer algo? Assim, alguma coisa, sabe? Pra sair da mesmice?