11 de mai. de 2007

O Copo, o Relógio e o Telefone XI



Por Fastolf Brambel - Desafio Caixa Preta II


Depois de toda essa confusão e de já não saber mais o que pensar, e muito menos o que sentir, sentei para uma breve reflexão.
Minha cabeça girava. Girava feito um roda-roda em um playgroud de crianças. Girava como esses que rodam com crianças felizes que se jogam para o prazer, nada muito diferente de mim... Talvez girasse pela mistura, talvez apenas por desespero. A lembraça daquela sala revirada coloborava ainda mais para meu caos emocional. Uma mistura de adrenalina, amor e ódio, com uma pitada exagerada de raiva. "Aquele gordo desgraçado deita e rola com minha paixão, bagunça a minha casa e ainda pretende desbagunçar a minha vida com o chamado da morte?!?! Humpf, a proteção de banha deve aumentar a sua coragem. Mas vou te dizer uma coisa, gordo imundo, banha não é a prova de balas!"
Levantei rápido e vigoroso para pegar a minha proteção... Um Colt 1911 38mm que meu pai guardava escondido atrás de JFK Oliver Stone Director's Cut, sem legenda, um filme em 3 VHS só poderia servir para esconder alguma coisa.
Tudo girava, girava, girava. As cores mudavam de tom. Acho que quatro horas de sono e um sonho lindo não foram o suficiente... mas naquele momento não poderia dormir."Não posso dormir, onde mesmo guardei essa arma?" Procurei no armário do quarto, no armário do banheiro, nas gavetas da sala e nada. Nada. O desespero começava a surgir quando os efeitos de tudo que usava deram uma brecha para minha memória. Lembrei. Armário da cozinha, dentro da panela de pressão! Alguém realmente acha que um cara que mora sozinho usa a panela de pressão? Entrei na cozinha e uma rápida olhada já me lembrou de copos quebrados, comidas e panelas dividindo o mesmo espaço, o chão. Naquela hora, sim, o desespero dominava. "Ele levou a arma. E agora? Estou morto, ele realmente vai me matar". Lembrei, em pânico, de ver um objeto não identicado em sua mão.

Voltei ao quarto e sentei na cama, levei as mão ao rosto expressando ainda mais o meu descontrole, nem o barulho dos meus pés, que batiam freneticamente contra os tacos do chão, era possível suportar. "Opa, os tacos..." Uma injeção de alívio e mais adrenalina quando mais uma lembrança veio a tona. Lembrei que levei tempos para convidar a família para um jantar, e ha tempos também comemos a maravilhosa feijoada de mamãe, aqui. Feijão, panela de pressão, tacos. Escondi debaixo dos tacos do quarto para não assustar minha irmã.
Com a arma em mãos e essa bunda mole na cama só me faltava uma coisa. Apenas uma... Coragem.
Confesso que não sabia o que fazer. Qual seria o próximo passo? "Vou até lá, dou um tiro na testa e um no peito. Não, muito rápido. Tá, chego bem perto, coloco a arma na cabeça do gordo e falo que se ele não desaparecer da cidade ele vira comida de porco, praticamente canibalismo. Não, muito leve... Já sei, deito o gordo no chão, mando morder o meio fio e piso na cabeça do bastardo. Também não, é um pouco violento."
E assim fui tentando disfarçar o medo, mas com uma coisa fixa em mente. "Preciso fugir com Dana... Dana... Dana".

A tontura já era indisfarçável e tudo foi ficando preto. Abri os olhos devagar sem acreditar muito em minha visão embaçada. Um quarto velho e sujo com uma cara conhecida e um terrível aroma de cigarro barato. No meu horizonte apenas um dedo para fora da meia do pé.
Uma enorme sensação de estranheza junto com a de que essa cena era familiar. Saí lentemante do quarto e atravessei um corredor lotado de mulheres feias com roupas gastas, quase nuas, me olhando com um certo tom de reprovação. De cima a baixo. Sempre me achei um cara bonito, mas aquilo realmente não me era estranho.
No bar, um garçom sem rosto me falava coisas inaudíveis enquanto as propagandas no espelho não paravam de mudar. Nomes de uisque, vodka, e outras bebidas vagabundas. Tentava fazer a minha escolha dentre os nomes e marcas quando reparei uma coisa medonha em meu semi-belo reflexo. Meia coisa medonha. Faltava metade de meu bigode...
Logo depois percebi que precisava, definitivamente, mudar o toque do meu celular. Era Dana.

- Jan-Luc, onde você está?

Olho ao redor enquanto apalpo meu bigode e percebo que minha própria cama era um lugar seguro. Outro sonho.

- Em casa, acho que caí no sono...
- Em casa, seu idiota? Tem um louco querendo te matar e você dorme?? Talvez mereça mesmo.
- Onde você tá?
- 12 com 18. Porto.
- Tô indo praí.
- Venha rápido.

Ok, não tão seguro...

Saí correndo com minha arma na cintura e uma pequena mala com algumas cuecas e camisetas. Na porta lembrei que precisava estar protegido caso o maníaco cruzasse o meu caminho. Um gole de cachaça era o suficiente para firmar o pulso.
Gostaria que tudo isso fosse um sonho. Que acorassemos, eu e Dana, em um quarto lindo e branco, numa cama grande e confortável.
Mas eram realmente os sonhos que andavam me impressinando. Fiquei pensando sobre a imagem de garoto esperto e gente boa que meus pais tinham de mim. Fiquei pensando no sonho repetitivo sobre metade de meu bigode. Sobre metade de mim. Um lugar que detesto estar embora acabe cedendo. Seria aquele um Jan assassino? Ou um Jan sem Dana? Um Jan sem vida!

Entrei na 12, passei a 16. 18. Era ali. Um lugar meio distante, no meio do porto abandonado, bastante escuro e que em nada me agrada.
Procurei cuidadosamente por Dana, não queria chamar muita atenção, ainda mais por ali.
Mas me parece que Dana não teve o mesmo cuidado. Em frente ao maior barracão da área das fábricas vi estacionado um Mercury Monterrey dourado. Estavam lá Dana e o Negão.

- Ufa, que bom que você está bem, Jan.
- O que ele ta fazendo aqui?
- Ele veio ajudar, porra, não seja tão hostil.
- Desculpa, obrigado. É que eu pretendia não chamar muita atenção.
- Ele nos será útil. Tem um carro veloz, um bom porte físico e contatos fora da cidade.Fora isso é amigo.
- Você quer me explicar o que tá acontecendo e porque minha vida está em risco?
- Nossa vida, Jan. E é simples, Maurício quer te matar e por eu não querer que você morra, quer me matar também. O complicado eu explico com o tempo.

Antes de entrarmos no carro fomos interrompidos por um grito soante e crescente: "Filhos daaaaaaa puuuuuuuuu-taaaaaaaa".
E lá vinha o gordo, em slow-motion, correndo em nossa direção com o objeto, agora identificado, em mãos. Uma Magnum 45.

- Isso vai dar meleca. Disse Mr. W.

Enquanto o gordo se aproximava eu, preocupado, saquei também a minha arma.
Pow, foi o que se ouviu. E tudo passou a girar ainda mais. Ouvi Dana gritar, mas meu ombro latejando indicava que o atingido era eu. Apaguei.

- O que é que você fez- disse Dana chorando.
- Calma, Maurício, mantenha a calma.
- Cala a boca, Walter - disse o gordo enquanto apontava a arma para a cabeça de Dana - Senão, além desses dois, eu mato você também. É melhor você dar no pé.

Por sorte desmaiei por apenas alguns segundos. Com o resto de minha forças ergui minha Colt enquanto Dana fazia não com a cabeça e tentava dizer alguma coisa. Não ouvi.

- Olha pra cá filho da puta, sem vergonha, dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão. - Falei enquanto puxava o gatilho. Puxei 5 vezes.

Dana chorava, gritava cada vez mais, enquanto Mr. W me ajudou a entrar no carro.

- Cuiado para não sujar meu banco branco.

Acertei o desgraçado 4 vezes. Uma na coxa e 3 vezes no peito. Fiquei orgulhoso. Orgulhoso e me cagando de medo. Tudo ao mesmo tempo.

- Jan, você é um imbecil - disse Dana enquanto nos afastavamos da cena do crime.
- Eu salvei a sua vida e você me xinga, Dana? Não entendo.
- Eu gritei 3 vezes, Jan. Ele é Policia. PO-LI-CIA, Jan-Luc. Gambé...
- O que??? Eu não ouvi nada. Não acredito. Fodeu. Matei um policial.
- Não matou. - murmurou Mr. W - Não matou.
- Como assim?
- Ele estava de colete.
- De balas?
- É, de colete.
- Como é que você sabe??
- Porque não dava para ver as tetas marcando a camiseta.
- Que nojo... E agora?

Dana chorava.

Continua...

7 comentários:

Gravata disse...

Mr. W! :D

Anônimo disse...

Aff. Meio bigode e meia vida!

Anônimo disse...

Ui! Farotédio Caboclo!!!!

Alice Salles disse...

Agora o Jan parece o Clive Owen pra mim! hahahha

Fastolf disse...

Já até imaginei o Clive Owen com meio bigode.

hahahahhahahahaa

Anônimo disse...

Mas que necessidade a Alice tem de fazer o Jan parecer com alguém. hahahaha!

E o W. parece com quem?

Rodrigo Gameiro disse...

UOU

Adorei a música!