Daren&Mariana FINAL
Por Mercedes Gameiro - Desafio Caixa Preta
Restaurante - 14:30
Daren está todo perfumado, arrumado como se fosse tirar foto para o passaporte…nervoso, esperando Mariana que, como sempre, está atrasada. Ele tem muita coisa para dizer e mal pode esperar até que ela sente e se acomode à sua frente. Olha sem parar para o celular como se ele fosse dizer onde ela está. Sobre a mesa, uma garrafa de vinho aguarda cheia de segundas intenções.
Mariana entra, seus olhos cruzam o olhar de Daren sentado ao fundo da sala. Ele mantém seu velho e bom olhar padrão: cotovelos apoiados na mesa, mãos cruzadas em frente à boca, olhar fixo…observando cada passo, movimento dos quadris, sorriso, olhar.
Mariana:
Eu me sinto pelada quando você me olha assim. Detesto chegar depois de você.
Daren:
Eu preferia mil vezes que você estivesse pelada.
Mariana: (rindo)
Eu conheço bem as suas preferências…
Daren serve uma taça de vinho para ela, levanta seu cálice num brinde.
Daren
A nós? A essa vida estranha que faz a gente ir e voltar como duas baratas tontas…
Mariana:
Isso…aos impurrões que a vida nos dá.
Os dois brindam se olhando nos olhos, mas há algo errado no olhar de Mariana.
Daren:
Que passa, bela? Tem um ponto de enterrogação irrugando a sua testa.
Mariana:
Não sei…to aflita.
Daren:
Por que? Não está tudo resolvido, esclarecido, os pingos em todos os i’s?
Mariana:
Quase todos…
Daren:
Qual está faltando?
Mariana:
Aquele que você disse: “toda vez que eu te encontro alguma coisa muito ruim acontece…”
Daren:
Desencana…isso já passou.
Mariana:
Não Daren…não passou. Eu tenho medo.
Daren:
Medo do que Max?…pelo amor de Deus. Já ta tudo resolvido. Eu vendi as empresas pro doido do Mr. W, o trucão do Gustavo com a desespero praiano e a Dina já foi revelado…o Gustavo foi embora pra Espanha sei lá fazer o que, mas a minha parte da empresa foi vendida pelo dobro do que valia e ele não tem direito a isso…ta tudo certo. O que mais pode acontecer? Mais nada!
Mariana:
Eu não sei Edge…não sei. Tenho medo. To com medo de tudo. Morreu gente na porta da minha casa, você me odio, você quase morreu naquele acidente por minha culpa. Eu quis cuidar de você e não pude. Tudo deu errado Daren. É difícil apagar tudo isso…
Daren:
Difícil como? O que você está querendo me dizer?
Mariana abaixa os olhos, respira fundo, toma um grande gole de vinho.
Daren:
Fala.
Ela olha nos olhos dele, larga o cálice e segura a mão de Daren.
Mariana:
Edge…(respira fundo, mexe na mão dele, pensa duas, três vezes) Eu recebi uma proposta de trabalho…em Londres…e eu aceitei.
Daren
Como assim aceitou?
Mariana:
Eu preciso Edge…não dá pra ficar aqui. Eu vou embora.
Daren:
Quanto tempo? Um ano? Eu espero um ano.
Mariana:
Não sei quanto tempo. Muito. Bastante. Um monte de tempo.
Daren:
Eu não acredito nisso. Agora que não tem mais nada entre a gente?
Mariana:
Tem Edge. Vai ter sempre. Se não for o seu medo vai ser o meu, se não for nada vai ser a doida da minha mãe…
Daren:
Ela É doida!
Mariana:
…sempre vai ter alguma coisa. A gente começou mal…é claro que vai acabar mal. No nosso primeiro encontro eu te odiei. Devia ser um aviso. Depois, no segundo, o Pedro tomou aquele porre…sempre tem alguma coisa…
Daren:
Não!
Mariana:
Sim…tem sim sempre alguma coisa. Você tinha razão: a gente se encontra e um monte de coisas ruins acontecem. Eu não quero, Edge.
Daren:
Quer sim!
Mariana:
Não Daren. Eu não quero.
Daren:
MARIANA, eu sei que você quer.
Mariana:
Presta atenção, DAREN: EU NÃO QUERO!
Daren:
Max…presta atenção você.
Mariana:
Não Edge. Nem dá tempo. Eu estou indo pro Aeroporto.
Daren:
Você vai embora hoje?
Mariana:
Vou. Em três horas eu vou estar levantando vôo. E chega.
Daren:
O que eu faço pra mudar isso? Você me ama Max…
Mariana levanta ainda segurando a mão de Daren, dá a volta na mesa, pára em frente a ele…
Mariana:
Nada, Edge…Você não pode fazer nada.
Ela puxa Daren para um abraço. Os dois se abraçam longamente.
Daren:
Eu sei que você me ama, Max…eu te amo também.
Mariana:
Não Edge…não vale a pena…não pode…
Daren:
E eu fico aqui? Assim? Só com esse abraço e mais nada seu?
Mariana cala a boca de Daren com um beijo. Os olhos dela estão cheios de lágrimas.
Daren:
Você não quer isso, Max, está na sua cara…eu sei que você quer ficar.
Mariana beija a boca de Daren mais uma vez, pega a bolsa e sai do restaurante.
Ele se senta olhando pela janela, vendo Mariana entrar no carro e se afastar. Ele poderia correr atrás dela, mas Daren tinha esta mania horrível de achar sempre que as pessoas têm alguma razão para tomar as atitudes que tomam. Mas Mariana não estava fazendo charme. Ela queria realmente ir embora. Ela queria realmente esquecer os últimos acontecimentos e tocar a vida como se nunca tivesse sequer produzido a festa de Dina, dançado com Daren, reencontrado Mr. W.
Daren pede a conta, paga, junta da mesa sua carteira de cigarro e percebe que Mariana havia esquecido a sua. Ele pega o Marlboro vermelho de Mariana e percebe que está pesado. Quando abre, vê um isqueiro zippo e um bilhete numa dobradura tipo origami:
“Isto é para você não me esquecer. É só olhar para a lua.
Sempre sua,
Max”
É um Zippo dourado fosco, manchado, como se fosse gasto e usado, embora novo. Em um dos lados está gravado: “forever under the same moon”
Daren testa o Zippo, com um nó na garganta.
E o tempo passa…Muito tempo passa…Todo o tempo passa…
Nos anos que se seguiram, Mariana se envolveu com arte. Não tendo uma vida pessoal decente, teve todo o tempo do mundo para enfiar a cara no trabalho e fez isso com todas as suas forças. Decidida a não se casar, não ter filhos, não fazer nada além de deixar uma obra de que a humanidade pudesse se lembrar depois de sua morte, Mariana tornou-se curadora de um importante museu em Londres, expôs suas fotos ao redor do mundo mas, desde que partiu, nunca voltou a pisar em São Paulo.
Nunca…até receber a notícia da morte de sua mãe.
Não tinha jeito. Mariana precisava arrumar as malas e ir para o Brasil sem saber quando retornaria a Londres. Ela sabia tudo o que enfrentaria no Brasil: teria que dar um fim aos bens da mãe, deixar as tias tranquilas com algum dinheiro, fechar o apartamento, vendê-lo talvez…não era trabalho para dois ou três dias.
No enterro, Mariana reencontrou Pedro e Mr. W. Esta talvez tenha sido a parte mais difícil para ela. Mas mesmo com a decepção de saber que Pedro só se aproximou dela por ordem de W, a presença dele ali foi um gesto bonito…de amizade. Depois do enterro, W e Pedro pediram que Mariana jantasse com eles. Ela não tinha mesmo nada para fazer, a não ser arrumar o apartamento da Mãe e separar roupas e móveis para doar…aceitou o convite.
Durante o Jantar, a pergunta que ela não queria ouvir:
Mr.W:
E como vai o nosso Daren?
Mariana não entendeu a pergunta…Como assim, como vai o Daren? O que Mr. W pensa que aconteceu todos esse anos?
Mariana:
Não faço ideia.
Pedro:
Como assim não faz idéia? Ele não foi embora com você?
Mariana:
Claro que não Pedro! Eu fui sozinha.
Mr.W:
Mas por que? Todo esse tempo eu estava esperando a notícia do nascimento do herdeiro…qualquer coisa assim.
Mariana (rindo)
Vocês são loucos! Depois daquela confusão toda eu me despedi do Edge e fui embora pra Londres trabalhar. Aliás, foi só o que eu fiz. Trabalhar.
Pedro:
Você gostava dele! E e ele era apaixonado que eu sei!
Mariana:
Ah…meninos…eu nem devia dizer isso pra vocês…
Mr.W:
Desembucha, loira!
Mariana:
Eu acho vocês dois grandes sacanas, mesmo sabendo que queriam me ajudar. Tive muita raiva de vocês, mas não adianta…eu adoro vocês dois…e eu não tenho mais ninguém mesmo…
Pedro:
Ai para de ser você mesma! Fala!
Mariana : (rindo)
Ai que saudade disso!
Mr.W:
FALAAA!
Mariana:
Então…eu adorava o Edge. Ele era tudo o que eu sempre quis. E ainda é.
Eu não tive mais ninguém, nem quero ter. Eu morro de saudade, ainda penso um monte nele…mas não sei…eu não perdi o medo.
Aquela noite, Mariana falou sobre Daren durante horas. O nome dele foi o cardápio do jantar. Ao voltar pra casa, Mariana estava triste. Triste por entrar no apartamento de sua mãe sem ver aquela doida falando sem parar. Triste por ter repetido tantas vezes a palavra Daren, sem sequer saber se ele ainda estava vivo. Mariana dormiu na cama da mãe e acordou as 9 da manhã com o telefone.
Pedro:
Mari. Ta acordada?
Mariana:
Agora to, né? Que saudade de ser acordada por você…fala.
Pedro:
Investiguei. Já sei tudo.
Mariana:
Meu…você continua brincando de James Bond com o W? Investigou o que?
Pedro:
O Troglô-fofo.
Mariana sentou na cama num impulso só.
Mariana:
E aí?
Pedro:
Quer saber mesmo?
Ela encosta nos travesseiros.
Mariana:
Ai. Se você vai me contar que ele ta casado e cheio de filhos, to fora.
Pedro:
Ele casou. Faz tempo.
Mariana:
Ta vendo? Droga!
Pedro:
Espera, mulher! Mas o casamento durou pouco. Ele tem um filho com a garota, mas já se separou há anos e foi morar em Los Angeles.
Mariana:
Ah…grande ajuda Pedroca. Daren Ross solteiro em Los Angeles. Imagina a putaria…
Pedro:
Ele tá em São Paulo.
Mariana:
O que??? Onde?
Pedro:
Anota o nome do hotel.
Mariana:
Ai meu deus…será?
Pedro:
Maricota…você que foi embora…você que tem que procurar por ele.
Mariana:
Certo..vou pegar caneta. Pera.
E este é o ponto onde as coisas se encontram.
Dentro do carro, numa conversa enigmática, Daren e Mariana falam sobre uma mulher que há anos foi embora deixando para Daren só um isqueiro Zippo com alguma coisa gravada:
MARIANA
E se ela voltar? Você vai aceitar ela de volta?
DAREN
It’s not an option.
MARIANA
Ahn? Você não aceitaria?
DAREN
Não existe a opção de não aceitar. Ela é a mulher da minha vida... Se ela aparecer sem as pernas, eu ainda vou aceitar e cuidar dela.
MARIANA
Mas sem as pernas ela não vai mais ser uma gostosa.
DAREN (gargalhando)
Isso seria um problema!
MARIANA
Então...eu acho que você ainda a ama.
DAREN
Putz...como se ela nunca tivesse ido embora.
Mariana sorri aquele seu meio sorriso que mostra mais felicidade do que quando todos os dentes podem ser vistos, pega o Zippo outra vez
Mariana:
Você sempre usou isso, ou é só porque eu apareci?
Daren:
Nunca me separei dele. Nem um minuto.
Mariana:
Você entendeu o que eu quis dizer com isso?
Daren:
Lógico. Foi mais fácil esperar. Eu sabia que um dia…sei lá.
Mariana não fala mais. Dirige até o apartamento de sua mãe, agora seu, entra com Daren no elevador sem uma palavra. Abre a porta, puxa Daren pela mão.
Mariana:
Vinho?
Daren abraça Mariana com todos os anos que os separaram, levanta ela no colo para que fique da sua altura, beija um longo longo beijo. Sorrindo, pergunta:
Daren:
Como você conseguiu viver sem isso?
Mariana:
Cala a boca…
Mariana beija Daren outra vez, ele a encosta na parede de sala e nunca mais param de se beijar. Daren e Mariana passaram dias e dias trancados naquele apartamento sem abrir a porta para nada além do entregador de pizza.
Uma noite dessas, caminhando à beira da praia, lembraram como era difícil antes imaginar que tudo isso pudesse acontecer. Na verdade, nenhum dos dois jamais acreditou na vida que construíram juntos. Estão sempre esperando que uma bomba caia em suas cabeças e os separe novamente. Talvez por isso seu amor é, hoje, tão forte quanto no primeiro dia.
Nunca mais Daren e Mariana souberam como seria um dia em que não acordassem juntos.
7 comentários:
Não resistiiii...ainda bem!!
Que romantico!!!!Que lindo!!!
Beijoooo
Eu gostei! Final bonitinho, Mr. W aparece etc etc etc. Muito bom!
:D
Depois desta, as outras histórias de amor são bobagem!
Amei!
bj
UFA eu achei que eles nao iam ficar juntos! lady mercedes saves the day and love wins again!
hahahahaahaha
UHU!
é nóis na fita manooooooooooooooooo
a-do-rei!
sem palavras...
que venha o próximo!!!
"Nunca mais Daren e Mariana souberam como seria um dia em que não acordassem juntos."
sem comentário... (com os olhos cheios d'água alice clica em "publicar o comentário" e se fecha no banheiro!)
hahahha
ninguém escreveria melhor...
no more words
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