Daren e Mariana XIII
Por Felipe Belão Iubel - Desafio Caixa Preta
...(só para deixar claro uma coisa: esse rumo violento que a história tomou não é minha culpa)...
Nas escadas do apartamento de Mariana, Ademir olha para a arma em sua mão. O contato com o metal gelado o faz pensar sobre as conseqüências de puxar o gatilho. Ele pára um segundo e segura no corrimão.
Ademir
Não é hora de pensar muito no que fazer. Essa fase já passou. Você já tomou sua decisão.
Mais dois degraus. Ele sente a veia em seu pescoço pulsar. Sua mão está gelada. Novamente, ele interrompe trajetória de iniciação à violência.
Ademir
Concentre-se na tarefa e não no resultado. Mais alguns degraus. Tenho que chegar até a porta. Depois disso, tudo que eu preciso fazer é puxar o gatilho assim que eu enxergar Pedro.
A porta se aproxima. A veia do pescoço de Ademir aumenta a intensidade da pulsação. O silêncio do corredor destaca o volume de seus passos. Sua mão sua frio. O metal escorrega por alguns segundos. Ele vacila e encosta a testa na porta. O suor deixa uma marca e antes que ele possa tocar a campainha, uma velha senhora chama sua atenção.
Vizinha de Mariana
Cruzes! Não pára de chegar gente nesse lugar hoje. Um pior que o outro.
Ademir não pensa. Não sabe o que está fazendo. A completa ausência de voz ou razão o obriga a agir. Ele, então, deixa que seu braço direito levante-se por conta própria e apenas escuta o disparo certeiro que atinge a garganta de Virgínia, a vizinha rabugenta de Marina. A velha cai com um baque surdo. Seu corpo leva consigo a planta artificial que enfeita o corredor.
Dentro do apartamento, Mariana e Pedro correm para a entrada. Quando chegam perto, pensando em observar pelo olho mágico, encontram Mr. W com um revolver na mão esquerda e com a outra preparando para abrir a porta.
Mariana leva a mão à boca e pára sem outra reação. Pedro enfia as unhas no braço da amiga e grita. Grita até sua voz sumir em poucos segundos.
O grito chama a atenção de Ademir fora do apartamento. Ele pensa em correr. Mas, antes de dar o primeiro passo, a porta se abre e ele sente uma dor insuportável na perna. O sangue não demora a manchar sua calça e chegar até o chão. O piso frio e manchado recebe primeiro o impacto do revolver prateado. Logo em seguida Ademir cai.
A queda desperta Mariana de seu momento sem emoção ou reação. Ela grita enquanto lágrimas escapam involuntariamente pelo canto de seus olhos, umedecendo sua expressão de mulher forte.
Mariana
O que é que está acontecendo aqui?!
Mr. W
Fiqueeee onnnde essssstá, Mariana.
Mariana
Fique o caralho! QUERO SABER QUE É QUE ESTÁ ACONTECENDO.
Pedro (voz mal saindo)
Dedê?
Ademir
Não me mataaaaaaa, por favorrrrrrrrr!
Mr. W. avança. Levanta Ademir com uma só mão e o encosta à parede. O sangue goteja sobre seus sapatos, mas sua expressão é de força e determinação.
Mr. W.
Por que você atirou na senhooooura?
Pedro desmaia.
Ademir (falando rápido e de modo bem gay)
Não sei. Ela me irritou. Não... sei. Queria matar o Pedro. Nãooo seiiii. Ela é velha. Não seii. Mariana vive reclamando dessa velha mesmo. Não sei mesmoooo. Me largaaaaa.
Mr. W.
Fale a verrrdade! Foram “eles” que te mandaram, não foi?
Mr. W. engatilha sua arma. Mariana corre e segura seu braço. A reação dele é automática. O golpe a derruba desmaiada.
Alguns minutos depois. Todos estão na cozinha do apartamento. Pedro, Ademir e Mariana estão com os pés e as mãos presas às respectivas cadeiras por panos de prato que foram usados por Mr. W como corda. Ademir continua desacordado devido à dor.
Mr. W.
Agoooura, eu precisooo que touudos se acalmem.
Silêncio. Dez segundos. Silêncio.
Silêncio só interrompido pelo grito de Pedro que se desespera e volta a desmaiar ao ver o corpo da velha embaixo da mesa.
Mr.W.
Eu cometii um errooou, Mariana. Não deveeeriiia ter vindo com meu carro até aqui. Eu sabia que eles poderiam me seguir.
Mariana
Do que você está falando?!
Mr. W. (ainda falando com sotaque, acho que todos já captaram essa parte)
Eu me envolvi em uma confusão. Não tive como escapar. E agora tenho que fazer uma coisa. E não me lembrei que poderiam me seguir até aqui por causa do meu carro. Eu coloquei você em perigo e não vou me perdoar por isso.
Mariana
Eu não estou entendendo nada!
A respiração de Mariana era ofegante.
Mariana
Qual o problema com seu carro?
Ela se esforçava para permanecer calma.
Mariana
Por que você está armado?
Sua voz ganhava força e raiva a cada pergunta.
Mariana
Por que você me pediu para chamar um táxi?!
As lágrimas insistiam em escapar e ela sentia mais ódio ainda de toda situação cada vez que sentia uma delas escorrer pelo canto dos olhos.
Mariana
Por que você atirou no Ademir?
Mr. W. (última vez que falo que o sotaque continua)
Ademir? Você conhece esse sujeito? O sujeito da arma na mão?
Mariana
Ele é namorado dessa bicha que desmaiou do meu lado. Aliás, os dois são meus conhecidos e meus amigos.
Mr. W.
Então, ele não foi enviado pelos caras que tentaram me matar nos Estados Unidos?!
Mariana
Claro que não! Eles não matam nem barata, puta que o pariu!
Mr. W.
Mas então por que é que ele estava armado?! Por que ele atirou nessa mulher?!
O sangue de Mariana congela e a seus pensamentos vem a lembrança de uma conversa com Pedro que ela não havia levado a sério. Na conversa, Pedro conta para Mariana sobre uma ameaça de morte que recebera de Ademir após uma discussão séria dos dois em uma boate gay.
Mariana
Isso não interessa. E não me interessa mais nada. Quero saber que é que você faz armado.
Ela olha para o corpo da sua vizinha. Sentimentos se confundem, pois se lembra de cada momento desagradável que a velha a fizera viver cada vez que chegava de madrugada em casa. Acompanhada ou não.
Logo em seguida a imagem da garganta perfurada se destaca em relação a qualquer pensamento e ela chora enquanto grita com Mr. W.
Mariana
Quero uma explicação agora e trata de me soltar logo daqui!
Mr. W.
Eu me envolvi em um esquema com investidores perigosos de WallStreet. No começo, eu achei que poderia me livrar da situação. Ganhar mais dinheiro. Mas tudo ficou difícil.
Mariana
Me solta!
Muitos gritos de Mariana. Gritos que impedem qualquer um de ouvir a explicação completa de Mr. W.
Mr. W.
E, então, eles vão me matar caso eu não apareça no encontro que eles marcaram daqui a pouco. Por isso pedi pra você chamar um táxi. Não queria chegar chamando a atenção. E quando vi esse sujeito armado e o corpo dessa senhora no corredor, achei que fossem eles.
Mariana grita e mais lágrimas aparecem na história. Mr. W. respira fundo e fica em silêncio. Frio. Pensativo.
Então, ele vai em direção a Mariana. Solta os panos de prato que a prendem a cadeira e, logo em seguida, recebe tapas e chutes, arranhões e socos. Não reage. Apenas olha com remorso para toda a cena. Sente pena por a ter envolvido em seus próprios problemas.
Mesmo assim, sua expressão não muda.
Então, ele vira as costas aos golpes da amante. Caminha em direção à porta e a deixa sozinha chorando desconsolada na cozinha. Desce as escadas e pega seu celular.
Grita seu nome para o policial do outro lado da linha. Afirma com clareza que acabou de atirar no pescoço de uma velha e na perna de uma bicha.
Entra em seu carro com calma. Sente o motor enquanto acelera sem perceber a rua, as esquinas, os semáforos ou as curvas. Apenas flashs da noite com Mariana passam pela sua cabeça e uma única lágrima marca seu rosto.
Ninguém nunca mais ouve falar de Mr. W. Nem os investidores perigosos de WallStreet. Nem a polícia. Nem Mariana.
10 comentários:
hmm.. escapou.. e nao revisei.. preguiça e pressa pra sair...
espero que gostem!
Hahahahahah! To adorando tudo isso. hahahaha!
"Mariana
Por que você me pediu para chamar um táxi?!"
HAHAHAHHHAHA! Bom de mais o Felipe resgatando a Carol! Adoro...next?? De volta ao hospital? ou vamos para a delegacia?
gente, isso aqui tá muito bom!!!
quem é o próximo?
eu?
alice?
fastolf?
Baixou um Jack Bauer no Mr.W!
Amarrar com pano de prato e abrir a porta atirando é total Jack!
Mr.W não em nome do meio porque nada fica entre Mr.W! hahahahah!
Oops...não TEM nome do meio...
DEUS!
Que que é isso!?
E agora???
Alguem pode escrever ai q eu to em pane! Nao sei o que fazer cdepois disso! Me deixou sem palavras literalmenteeeee!
Jack Bauer com Rubem Fonseca...
escapou ...
juro que escapou..
e a paergunta do taxi.. foi pq eu e a carol tínhamos combinado já
hahahha
huahuahuahuaahu obrigada por me salvar!!!
ufa... se vc tivesse matado o Pedro eu ia ficar MUITO MUITO MUITO triste, ele é meu personagem preferido!!!
mandou bemmmmmmmmmmm
AHAHAHAHA ...DELÍCIA!!! MUI BIEN!!!
mas... acho que vamos ter que chamar aquele personagem do tarantino... acho que o de niro é quem fez, aquele que limpa o sangue do carro e some com o corpo hehehehehe
next writer in trouble... hehehe
Harvey Keitel era o cara. O que limpava tudo.
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