9 de abr. de 2007

Daren e Mariana I

Por Mercedes Gameiro

EXT. DIA


São tres horas da tarde em São Paulo num dia de sol como outro qualquer em 2007, com aquela umidade que mostra que a chuva vem vindo, hoje ou amanhã, mas ela não há de falhar.
Na porta do Hotel onde Daren está hospedado, a equipe inteira se prepara para sair depois de uma reunião para definir o dia de amanhã. Hoje, folga merecida para todos. Foram dez dias de trabalho exaustivo em território estranho, o que torna tudo mais difícil.
Cansado, mas com um sorriso misterioso no rosto, Daren conversa animado, tentando explicar aos amigos porque não vai acompanhá-los na tour pela cidade. Ele mente descaradamente, e todos os amigos sabem disso. Eles trabalham juntos a tempo suficiente para um não conseguir enganar o outro.

Um carro prata estaciona na driveway. O vidro abaixa lentamente e revela o rosto de uma mulher. Os homens todos se entreolham, alguns fazem gracinhas.

MARIANA
Hey! Você?!

DAREN
Eu?
(falando para os amigos)
Sabia que tinha esse tipo de mulher aqui?

MARIANA
É... Você. Quer uma carona?

DAREN
Pode ser. Onde você vai me levar?

MARIANA
Pro paraíso?

DAREN
(olha para os amigos sorrindo ironicamente, e anda em direção ao carro curioso)
Não tem lugar pra um cara como eu lá...

MARIANA
Você não sabe nada de paraiso. Você pode ser rei naquele lugar.

DAREN
Bom…eu conheço a rainha…

MARIANA
Imagino...anda! Vambora.


Daren dá a volta no carro sob o olhar embasbacado dos amigos enquanto o vidro do carro se fecha devagar. Ele entra, MARIANA solta o cinto de segurança e se joga em cima dele num beijo colado e caliente, ao qual ele corresponde sem pestanejar. Ela pega um cigarro, se recompõe, e pede fogo para ele.
MARIANA
Tem fogo?

DAREN
Tá brincando?

MARIANA
E você?

DAREN
(pegando o isqueiro)
Eu nunca brinco.


Ele acende o cigarro dela com um zippo, cheio de truques e malabarismos.

MARIANA
Uou… nice zippo.

DAREN
Não é? Ganhei de uma amiga.

MARIANA
Amiga?

DAREN
É.

MARIANA
Você não parece o tipo de homem que fica amigo de mulher.

DAREN
Acontece que eu sou exatamente esse tipo de homem. Minha mãe fez um grande trabalho me educando.

MARIANA
Me fala dela.

DAREN
Da minha mãe?

MARIANA
Não! Da sua amiga…

DAREN
Que amiga?

MARIANA
A que te deu o isqueiro.

DAREN
Ah. A minha amiga! Ela é uma gostosa.

MARIANA
Credo! Isso é jeito de definir alguém?

DAREN
Ah é...se for verdade.

MARIANA
Grosseria.

DAREN
Não é grosseria. Ela é uma das mulhres mais bonitas que eu já conheci.Você tinha que ver... até você ia achar ela é uma gostosa.

MARIANA
Ah ta...okay.

DAREN
Tem um cabelo incrível! Eu nunca vou esquecer o cabelo dela caindo no meu colo equanto ela fazia um --

MARIANA
(interrompendo)
Hey! Faz favor?

DAREN
O que? Ela era boa nisso, sabia?

MARIANA
(reclamando)
Gostosa... Quem olha pra cabelo?

DAREN
(rindo)
Eu! Olho, pego, agarro. Adoro.

MARIANA
Ai me poupa dos detalhes, vai. Chega da gostosa.

DAREN
(às gargalhadas)

Não to entendendo a sua reação...o que tem demais chamar alguém de gostosa? É GOS-TO-SA! Não tem outro jeito de descrever aquilo.

MARIANA
Só isso que ela é? Uma gostosa? Ela não tem nada assim...mais humano?

DAREN
Claro! Ela é tão humana que me deixou.

MARIANA
Ah! Isso mostra que ela tinha um cérebro que podia ser usado junto com a bunda.

DAREN
É. Ela era bem boa nisso também.

MARIANA
To começando a gostar dessa mulher. O que aconteceu entre vocês?

DAREN
Nada.

MARIANA
Como nada? E o cabelo caindo no colo? Nada?

DAREN
Pois é. Teve isso e outras coisas. Mas ela foi embora. Então pra ela tudo isso deve ser nada.

MARIANA
O que você fez pra ela ir embora?

DAREN
Nada.

MARIANA
Ah. Tá explicado.

DAREN
Como assim?

MARIANA
Você deve ter feito muito menos do que ela esperava. Ela cansou e foi embora. To errada?

DAREN
Um pouco sim. Um pouco não. Ela não podia ficar comigo… e eu não podia esperar pra sempre.

MARIANA
Alguma vez você perguntou se ela ainda está te esperando?

DAREN
Você não entendeu. Ela NÃO QUIS ficar comigo. Ela desapareceu de um jeito que só por um milagre
eu ia conseguir perguntar alguma coisa pra ela.

MARIANA
Não rola um milagre?

DAREN
Eu acredito em milagres. Você não?

MARIANA
Eu acredito que algumas coisa são eternas. Que tem histórias que nunca acabam, que tem pessoas predestinadas...Karma...

DAREN
Eu acredito mais em querer demais e ir atrás do que se quer.

MARIANA
Faz as contas. É a mesma coisa.
(pausa)
O que você fez quando ela foi embora?

DAREN
(olhando para o isqueiro)
Eu quis por fogo em tudo. Apertei o foda-se. Fiz festa, enchi a cara, comi meio mundo, dormi pouco...
MARIANA
Parece divertido.

DAREN
Mas não foi. Foi patético.

MARIANA
Você amava ela?

DAREN
Onde a gente vai?

MARIANA
Amava?

DAREN
Chega?

MARIANA
Fala!

DAREN
Não vou falar nada. Essa mulher apareceu na minha vida várias vezes. Todas as vezes foi forte, foi maravilhoso. E desde a primeira vez que eu olhei pra ela eu fui um adolescente imbecil de tão apaixonado.E eu tive medo dela, me afastei, mas nunca consegui resistir a ela quando ela chegava. E quando ela foi embora eu fiquei perdido como se ela tivesse tirado a única coisa que eu tinha de sólido, que era essa coisa com ela que eu negava. Eu neguei tanto que deu nisso. Foi ruim. Não interessa mais se eu amava ou não.

MARIANA
Eu acho que você ainda ama essa garota.

DAREN
Não me interessa.

MARIANA
Garota? Dá pra chamar assim ou ela tem a nossa idade?

DAREN
Ela tem a nossa idade. É só uma criança.

MARIANA (sorrindo)
E se ela aparecer de novo?

DAREN
Você acredita nisso?

MARIANA
Em milagre?

DAREN
Que ela voltaria pra mim?

MARIANA
E se ela ainda te ama?

DAREN
Só um milagre...Ela não quis ficar.

MARIANA
Vai ver que ela tinha medo.

DAREN
Do que?

MARIANA
Sei lá. Talvez ela tenha esperado demais por você, mas você tinha sempre alguma coisa mais importante do que ela: trabalho, filhos, planos que ela não fazia parte… ela pode ter tido medo de concorrer com tudo isso.

DAREN
Ela sabia que era preciso esperar um pouco. Eu nunca escondi isso.E os problemas que ela tinha eram muito maiores do que os meus. Mesmo assim eu nunca reclamei.

MARIANA
E se ela voltar? Você vai aceitar ela de volta?

DAREN
It’s not an option.

MARIANA
Ahn? Você não aceitaria?

DAREN
Não existe a opção de não aceitar. Ela é a mulher da minha vida... Se ela aparecer sem as pernas,
eu ainda vou aceitar e cuidar dela.

MARIANA
Mas sem as pernas ela não vai mais ser uma gostosa.

DAREN
(gargalhando)
Isso seria um problema!

MARIANA
Então...eu acho que você ainda a ama.

DAREN
Putz...como se ela nunca tivesse ido embora.


NOITE - BAR LOTADO - Muitos anos antes
O garçom passa falando alto:
GARÇON
Okay pessoal, preciso fechar o bar. Não vamos servir mais ninguém, mas quem quiser
pode sentar nas mesas de fora e levar seu copo.

As pessoas se empilham na porta para sair, alguns levando o copo, outros levando a garrafa, mas todos dispostos a ainda terminar seus drinks. Alguns combinam de ir para outro lugar. Outros se despedem dizendo que precisam ir para casa. Entre cabeças e empurra empurra, Daren observa uma mulher vestida de preto, cabelos muito loiros, olhos tão grandes quanto o sorriso. Ele abre caminho pela contra-mão com seu corpo enorme, entre as pessoas que se espremem para sair.

Ele é descomunalmente grande. Não gordo. Grande. Um homem muito alto, com mãos enormes, cabelos claros, pele bronzeada, olhos azuis e gargalhada assustadoramente alta. Tudo nele é um exagero, inclusive o bom gosto. Apesar do tamanho, suas roupas são extremamente cool. Jaqueta de couro, calça jeans meio surrada, meio rasgada, um sapato que revela não só o seu gosto, mas também seu poder aquisitivo, um capacete embaixo do braço que mostra que há uma Harley Davidson estacionada em algum lugar lá fora.

Daren se esbarra contra todos e se aproxima da mulher. Não fala nada, mas fica por perto ouvindo e observando. Ela sente-se um pouco incomodada com a proximidade dele. Há poucos minutos, dentro do bar, uma de suas amigas estava sentado no colo dele numa atitude extremamente vulgar a que ele respondia com vulgaridade ainda maior.

DAREN
Alguém tem chiclete?


Sem pensar duas vezes, ela mete a mão na bolsa, tira uma caixa de chiclete e estica o braço na direção dele. Ele sorri e pega o chiclete, mas na hora de devolver puxa a caixa para que ela não possa pegar. Os dois se olham fixamente.

DAREN
Você é a MAX?

MARIANA
Sou. Você é quem?

DAREN
The Edge.

MARIANA
Ah...então é você?

DAREN
Quer ciclete?


MARIANA pega a caixa de volta sem responder.

DAREN (cont.)
Bom te conhecer, Max. Vai sair com a gente? Vamos pra outro bar.

MARIANA
Não. Quero ir pra casa.

DAREN
Que pena. Eu ia precisar de mais chiclete.


MARIANA faz uma cara de quem não acha a menor graça e passa por ele em direção ao portão do bar. Daren solta uma das suas gargalhadas, ela olha para ele mais uma vez e vai embora.

NOITE - CASA DE MARIANA
No escritório MARIANA está no computador conversando com amigos na internet. Vemos na tela uma janela de Mensagen Instantânea se abrir. MARIANA fala enquanto escreve.
Ignobil diz: Hey! Você foi na festa?

MARIANA diz: Fui.
Ignobil diz: Ai que inveja...Quem estava lá
MARIANA: todo mundo. Pelo menos todo mundo que interessa. Os mais divertidos. Incrível como a gente imagina todo mundo lindo e interessante na internet...no fim parece a turma de formandos de engenharia.
Ignobil diz: Hahahahha! Isso mesmo.
MARIANA diz: Inclusive uns com uma roupinhas de gerente te banco que ai ai ai!
Ignobel diz: Você conheceu o Edge?
MARIANA diz: Conheci. Bleh!
Ignobil diz: Bleh?? Ele é o máximo!
MARIANA diz: O máximo da grossura. Ele é o cúmulo! Feio, gordo e grosso.
Ignobil diz: Nossa. Você conheceu outro cara...
MARIANA diz: Não... Foi ele mesmo, ele se apresentou. Mas ele é agressivo... Ui! Detestei!!
Ignobil: Você deve estar louca...

CONTINUA...

2 comentários:

Mg Writers Club disse...

Desisto de tentar formatar isso aqui.
Vai ficar assim mesmo, cheio de letrinha de tudo que é tamanho.

Fernanda S. disse...

Por que fui começar a ler?!?!?! Agora vout er q ler tudooo...